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FC Porto: Deve AVB manter Conceição? Sim

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Deve AVB manter Conceição? Sim
Depositphotos

Que Sérgio Conceição faz e se chega à frente, lá disso ninguém o pode acusar. Ciclo de maus resultados e quatro jogadores afastados por falta de aplicação/empenho, sendo que a mãe de todas as questões residia no facto de ter de se dar a pedrada no charco. No caso das eleições do FC Porto, Conceição tinha tudo para assumir uma não-reprovável postura salomónica: afinal de contas todos reconhecem que o problema do FC Porto não está no treinador. E é tão consensual quanto o facto de os dragões estarem a lutar pelo terceiro lugar/Taça de Portugal e nem esse facto trazer a mínima contestação para as hostes do dragão. Ao contrário do que acontece com o Benfica e com Roger Schmidt. Que está em segundo lugar e ainda com matemáticas hipóteses de título.

Sim, Sérgio Conceição podia lavar as mãos e enveredar por uma postura de silêncio. Mas tomou o caminho mais digno: com todo o respeito pelos adversários, foi bem mais louvável manter-se fiel ao seu candidato de sempre (Pinto da Costa) do que ziguezaguear as questões dos jornalistas e fechar-se numa carapaça que, mesmo incensurável, traduziria algo de manifestamente antípoda daquele que é o ADN de Sérgio Conceição: é por aqui, é este que eu apoio. É esta a minha escolha. Não sou hipócrita, quem não gostar que tenha paciência. Depois logo se vê, logo nos sentamos e tudo se resolve.

André Villas-Boas foi inteligente quando reconheceu e respeitou a atitude do técnico, não a tomando como uma afronta. Um primeiro sinal: mesmo de um ponto de vista mais etéreo, mais simbólico, a compreensão de ambos representa um primeiro eixo de entendimento até, porventura, mais difícil de obter do que uma simples conversa entre dois treinadores, sendo que um deles (André Villas-Boas) se tornou, de forma legítima e democrática, também Presidente.

Seja como for, neste capítulo em específico, o Presidente deve ser treinador. E perceber, como percebe, que o FC Porto tem uma equipa de tremendo potencial, jovem, e muito bem construída. Sobretudo do meio-campo para a frente onde as soluções são mais sólidas e abundantes. E que o processo evolutivo pode catapultar para outros patamares numa próxima temporada onde não haverá Liga dos Campeões, mas haverá Liga Europa e Mundial de Clubes. Ou, então, podemos fazer o raciocínio inverso: se a equipa fosse uma manta de retalhos ou não tivesse identidade própria, a solução teria de passar pela saída do técnico e pelo refrescamento da posição em questão. Novas ideias, novos intérpretes e, sobretudo, uma nova visão diretiva que teria – como tem de ser – respeitada e acatada por todos. Em prol da união do clube.

A meio da viagem – que é inteligente e ponderada - o condutor deve manter-se. Quer pela ligação ao clube, mas sobretudo e acima de tudo, pelo conhecimento minucioso de todo o plantel e seus respetivos tentáculos (equipa B + formação), qualquer troca na estação de serviço poderia representar um atropelo em relação a um processo que está em fase ascensional. Prioridade: juventude da equipa e a sua reconhecida margem de progressão. A clarificação da próxima temporada não como um “ano zero”, mas sim como a etapa seguinte – o “ano um”. E tudo o resto como verdadeiramente supérfluo, mesmo a renovação às portas do ato eleitoral. Aí um “verdadeiramente supérfluo” ainda mais grotesco: o timing pode não ter sido o melhor mas ninguém tem dúvidas que a renovação foi realizada com um técnico competente e que não é nem ingénuo nem ceguinho. Mesmo não o revelando, certo é que Sérgio Conceição também já tinha percebido que André Villas-Boas seria o novo Presidente do clube. Sem cortinas nem vistas turvas.

Compete ao novo Presidente André Villas-Boas, para lá da implementação legítima de novas ideias/novos quadros, a criação de uma ponte entre todos. Até porque, valha o passado, há algo de superior que une Sérgio Conceição, Jorge Costa e Andoni Zubizarreta: todos eles ex-profissionais de futebol. Todos eles antigos internacionais pelas respetivas seleções. Malta tarimbada. Batida. E que percebe, de uma forma imediata e sem recurso a assessorias, que o problema do FC Porto não está nem nunca esteve na capacidade da equipa técnica.

Ainda numa lógica de criação de pontes, algo de curioso e superlativo aconteceu nas eleições. O principal candidato derrotado – Pinto da Costa – representa a pura mística, o “portismo” na sua génese, e assume-se como o símbolo máximo de uma mensagem de FC Porto não apenas saliente no clube mas também congregada na defesa da região norte. Rei morto nem pensar. Rei emérito cuja nova direção deverá acarinhar e estabelecer canais de proximidade. Contínuos e permanentes. Mesmo que a resposta seja negativa, como não é crível que seja. Esta será sempre a sua casa. Independentemente de tudo e de qualquer zanga. Para além da experiência acumulada, a presença de Pinto da Costa em todos os pontos altos e eventualmente baixos representará o pilar identitário do clube e a garantia de união forte que sempre defendeu, granjeou e enfraqueceu os rivais.

Acima de tudo, o passado dia 27 de abril de 2024 restabeleceu a paz. A paz entre todos. Se a nova direção tem toda a legitimidade e razão em acelerar os processos de forma a estabilizar a nau o quanto antes, há um FC Porto que ainda navega nas águas turbulentas desta temporada: 3º lugar ainda não está; Taça da Portugal também não. O Dragão precisa de ação, e de ação já. De imediato.

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