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Benfica: Festejos no Marquês e imperiais no Bairro Alto

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Festejos no Marquês e imperiais no Bairro Alto
Sporting CP

Os argumentos podem ser múltiplos. E todos muito almofadados do ponto de vista da justificação. E utilizar a frieza dos números. Na realidade, se o Benfica somar 82 pontos nas contas finais da liga, tal representará um desiderato relativamente otimista e que, em determinadas condições, poderia representar a conquista do título. Afinal de contas Trapattoni foi campeão em 2004/2005 com 65 pontos. Ainda haveria uma margem de segurança de 17 pontos.

Do argumento aritmético ao emocional. Talvez o mais adequado. E volte-se a essa mesma época, a subsequente à conquista da Liga dos Campeões pelo FC Porto e que, curiosamente, também foi pautada por alta turbulência para os lados do dragão. Victor Fernandes, o técnico que na altura substituiu o erro de casting Luigi Del Neri, foi despedido por Pinto da Costa pouco tempo depois de se ter sagrado campeão do mundo de clubes. E não foi pelo facto de ter perdido em casa frente ao Braga. Foi, isso sim, por ter tomado tal derrota como normal dentro de um quadro de clube grande onde a derrota pode acontecer, mas nunca pode ser algo tomada como habitual ou tolerável.

Já diz Sérgio Conceição que “ter um contrato não basta”. Para jogar no Benfica, ou orientar o Benfica, o mesmo raciocínio é aplicável. Nunca, em situação alguma, se pode referir que os encarnados ficaram aliviados após vencerem o Estoril (temporada passada) e quebrado uma série de resultados negativos; ou então eliminar um Rangers manifestamente inferior e alegar que se jogou muito bem. Porque se trata da entrada na mais pequena das portas e aquela cujo retorno é mais complicado. É normal o Benfica vencer o Estoril e não há muito a dizer; e se o Rangers não foi amassado em conformidade, a prioridade tem de ser passar uma borracha por cima e reunir as tropas para um desempenho em campo que tem de ser muito melhor. Eliminar o Rangers e o Toulouse “à rasquinha” pode ser muito giro para muitos emblemas, mas para o Benfica não chega. Não é fracasso nem catástrofe, mas está longe de ser um êxito. Insuficiente.

Até que fica bem a Roger Schmidt congratular o Sporting e Rúben Amorim pela conquista do título. Até que mostra indiscutível nobreza de espírito e fair-play. Agora, e muito embora faça uma coerente análise aritmética da situação, o técnico nunca pode dizer que o “Benfica fez uma boa época, mas não fantástica”. Como se o Sporting festejasse no Marquês e os encarnados também fossem beber umas imperiais no Bairro Alto, Porque o Benfica conquistou apenas uma Supertaça e falhou em tudo o resto, algo que é unanimemente escasso tendo em conta os pergaminhos do clube. E porque o Benfica, pelo menos para já, vai ficar a oito pontos do novo campeão. Sim, tanto se perde um ponto como por oito. A questão do universo é que não pode ser escamoteada. Pegar no contexto pela frente e nunca sacudir a água do capote, com o argumento de que os ditos 82 pontos, em condições x ou y, poderiam ter servido para muita coisa. Para muitos títulos. O Benfica vive no real e não numa realidade paralela. Do que poderia ter sido se a avó da águia tivesse rodas.

Pode-se, também, conjugar os dois elementos em questão: aritmética + contexto. E o resultado não sai muito favorável a Roger Schmidt. Com um plantel, em termos de valia individual, francamente superior a todos os demais, então o Benfica teria de cortar a linha de meta com margem dilatada. Ou seja, na pior das hipóteses, o Marquês de Pombal estar hoje pintado de vermelho e nunca de verde. Cavando um pouco mais, o problema agudiza-se. E agiganta-se nas suas profundezas: porque a massa adepta do Benfica é positivamente significativa e exigente. E não poderá, até pelo seu passado, compactuar com o pensamento de um treinador que toma o mau como razoável e o médio como bom. O adepto do Benfica até prefere perder de forma justa a continuar a trilhar o caminho do mais ou menos e do remediado. Por isso, cada dia a mais de Schmidt no Benfica representa a contínua tocadela da campainha da revolução.

A situação de Roger Schmidt faz lembrar a de Odyessas. Não são inaptos. Têm qualidade e deixam coisas boas, sendo que no caso do técnico de salientar a destemida aposta em jovens provenientes dos escalões de formação – António Silva e João Neves – que, para além do mais, irão certamente aportar milhões aos cofres da Luz. Agora, pede-se mais do que um rol interminável de grandes defesas. De apostas certeiras. Para o Benfica exige-se tudo e mais alguma coisa, seja através de um jogo de pés compaginável com o estatuto de equipa grande e que passa a maior parte do tempo a atacar, ou então de desenhos táticos mais versáteis, que coloquem a equipa a jogar de maneira diferente e mais condizente com a valia dos quadros de que dispõe.

Por isso, ao que tudo indica, faltam dois jogos para a aventura de Schmidt na Luz ter o seu epílogo. Se tal acontecer, não sairá como a maior calamidade da história recente do clube, mas também não terá o seu nome no museu dos melhores. Dos Erikssons desta vida. Representará, isso sim, uma página virada e a plena consciência de otimismo: mal por mal, 2º lugar e via aberta para a Liga dos Campeões. E um plantel que, malgrado não ter evoluído, tem condições para ser trabalhado de outra forma por aquele que se seguir. Do novo capítulo. Ventos de frescura.

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