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Benfica: Schmidt e o Hungria-Portugal de 1998

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Schmidt e o Hungria-Portugal de 1998
SL Benfica

Era Humberto Coelho o selecionador nacional e jogava-se, em Budapeste, o apuramento para o europeu de 2000. Na altura, os húngaros até marcaram primeiro, mas Portugal deu a volta ao jogo, com dois golos de Sá Pinto e um de Rui Costa. Mas, afinal, o que é que este jogo tem de especial e qual a sua relação com o atual Benfica?

O Hungria-Portugal de 1998 ficou no baú das curiosidades porque, na ocasião, o selecionador não realizou qualquer substituição. Manteve o onze do início ao fim e, mesmo assim, conseguiu protagonizar uma reviravolta que foi decisiva para a qualificação para a fase final da competição.

Agora o Benfica. E Roger Schmidt. Se, na altura, Humberto Coelho não realizou quaisquer substituições para não desequilibrar a equipa, no caso atual a premissa mantém-se com a diferença substancial a residir no banco de suplentes. Porque, no caso de Roger Schmidt, há soluções para se fazer muito diferente e para não se estar agarrado a um onze minimamente sólido, mas que não chega nem para o Sporting nem tão pouco para o Marselha.

E a análise já vem da temporada passada. A euforia dos festejos do Marquês camuflaram uma imagem alusiva ao técnico alemão: o lote da malta de confiança; e o grupo daqueles em que Schmidt só confia um bocadinho ou quase nada. No último terço da temporada passada, recorde-se, o Benfica usava e abusava de Aursnes na lateral direita, com a ausência do norueguês nas contas do miolo a fazer-se sentir. E Gilberto fresquinho no banco. Schmidt usa a justificação da necessidade da manutenção dos equilíbrios mas, se calha,r era melhor ter em campo uma equipa com um bocadinho de desequilíbrio. Até porque a qualidade individual consegue suplantar todos esses hiatos, no sentido natural de que a lei do mais forte deve prevalecer. Mesmo dentro de uma cápsula não tão equilibrada quando a exigência da balança tática.

Em Marselha, Schmidt só fez três substituições, sendo que as duas primeiras – leia-se sobretudo saída de Tengstedt – se revelou incompreensível. É certo que o dinamarquês, tal como Sérgio Conceição referiu, até podia ser mais agressivo na altura da pressão junto da primeira fase de construção contrária mas, ainda assim e no lote de todos os avançados encarnados, é o mais habilitado para desempenhar a tarefa. E, também valha a verdade, tudo é preferível a colocar-se Rafa em cunha na dianteira. Até pelas experiências recentes – primeira parte da Supertaça frente ao FC Porto e jogo em Guimarães. Tudo para não dar bom resultado. Pior do que repetir um erro é voltar a repeti-lo. E esperar que, desta vez, tudo dê certo.

O que se espreme do jogo do Marselha? Mais uma vez uma equipa muito preocupada com os ritmos de jogo, no sentido de evitar as possíveis acelerações de um Marselha que, perigoso mas não temível, foi sempre mais afoito nos duelos individuais, sobretudo no miolo. Sem ter estado propriamente catastrófico – na primeira parte o recuo estratégico de Rafa para definir o quarteto no miolo nem foi mal pensado – o prato ainda assim sabe a pouco, pois Golias até pode perder mas nunca deve desempenhar o papel de David. Benfica demasiado conservador. Pensar na ferida e no contragolpe pode ser inteligente, mas simplesmente a espaços dentro de um espectro em que efetivamente reconhecemos que somos melhores. E o lance do golo define também o individual da questão: tal como Evanilson lhe fez no Dragão, a reconhecida competência de Aursnes não chegou para cobrir o espaço invadido por Moumbagna. Uma questão de ter ou não ter ADN. Algo que toda a gente vê. E toda a gente também vê, e reconhece, o curto alcance atual dos encarnados tendo em conta o seu potente motor recheado de cavalos.

Qual o melhor Benfica da temporada? Se calhar o da segunda mão da Taça de Portugal frente ao Sporting. Completamente pressionado para obter resultados e tentar salvar a temporada, Schmidt escalpelizou a equipa leonina ao milímetro no sentido de a desmembrar. Sim, causou problemas e também sim, Rúben Amorim teve de puxar dos galões para resolver o problema. Mas ainda assim, para os encarnados a coisa nem correu muito mal. Por isso, nada melhor do que espremer e manter o onze-base até ao final da temporada, com a perspetiva de que a consolidação do mesmo poderia resultar quer em termos do jogo do título quer em termos de uma eventual conquista da Liga Europa. O que não aconteceu.

É doloroso ver uma equipa com a qualidade individual do Benfica a jogar as últimas cinco partidas da liga por uma questão de honra. É também doloroso verificar que a eventual rescisão do treinador será traumática e dispendiosa. Seja como for, não há maior prejuízo do que perceber que o capital não é devidamente potenciado. Euro atrás de euro, dia após dia. Os largos dias de Schmidt, ao que tudo indica, poucas semanas têm.

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