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Portugal: Últimos lugares no autocarro

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Portugal: Últimos lugares no autocarro
Federação Portuguesa de Futebol

O autocarro tem capacidade para 23 lugares e há ou outro assento que pode estar vago. Ou então andar meio solto. A pender para um lado ou para o outro. E, depois, há sempre a componente do imponderável: se acontecer a lesão deste ou daquele, sabemos como atuar e não vamos deixar a seleção manca. Porque, nos exercícios de aquecimento, realizamos os testes necessários à consolidação da equipa como “planeta de 23” e também aos seus tentáculos próximos e invisíveis. Os tais lugares vagos ou possíveis lugares vagos.

Ajustes à parte, a filosofia mantém-se. Portugal marcou cinco golos à Suécia com a mesma naturalidade com que serviu a mesma receita à Bósnia e Herzegovina ou então brindou o Luxemburgo com nove golos no Algarve. A revolução (ou evolução) Martinez não se turva: se o principal atributo de Portugal é o talento, então não faz sentido vivermos com receio de A ou de B. Não há Gyokeres que abale uma viatura em permanente aceleração e que não se retrai nas curvas apertadas.

E que apresenta um segmento dotado de mutação específica – três ou quatro defesas – e que se define consoante o adversário, sem que com isso se vacile a identidade. Diante da Suécia, o recuo estratégico de Palhinha (muito hábil no passe longo) proporcionou novas dinâmicas aos corredores, sobretudo do lado direito. Também a inclusão de Matheus Nunes – em progressão como interior direito – equilibrou a equipa na senda do pilar que as sustenta: a dupla composta por Bernardo Silva (da direita para o meio) e Bruno Fernandes, com ordens para racionalmente vagabundear o miolo sempre com a zona de finalização em ponto de mira.

Lógico é que todo este contexto pressupõe pilares afinados. Mesmo num contexto algo desequilibrado em termos de disposição em campo, a seleção portuguesa vai assobiando harmonia. Porque marca que se farta e não sofre de forma avultada. Mas ainda assim vai pingando. Martinez pede mais no que à consistência defensiva diz respeito não pelo receio que as “Suécias desta vida” lhe possam causar, mas antes porque pretende manter o registo diante dos ditos tubarões que vão invariavelmente aparecer. Sendo que a estes não se pode marcar três ou quatro.

Também é plausível dizer-se que a estratégia de Martinez funciona porque o próprio reconhece que tem jogadores capazes de fazer a diferença. Do lado esquerdo, Rafael Leão vai crescendo de jogo para jogo. São os remates em arco, é verdade. É o arcaboiço físico. Sem dúvida. Mas há uma terceira característica que o torna distinto dos demais: a capacidade de aceleração rápida: Leão vai dos 0 aos 100 em poucos segundos, algo que é identificável apenas em meia dúzia de jogadores em todo o mundo. E que dá um jeito tremendo a Portugal não só ao nível da transição defensiva como também naquela máxima de que qualquer milímetro que possa ser dado a Leão tendo a ser transformado em centímetro à velocidade de uma rajada de vento. Acelerai e multiplicai-vos.

Em paralelo àquilo que Leão apresentou, enfatize-se também o regresso de um lateral – Nuno Mendes – que aporta à seleção um eixo dominante: a exploração do lado esquerdo por um esquerdino, algo que naturalmente propulsiona o corredor em toda a sua plenitude. Também saliente a destreza com que Portugal sempre atacou com cinco homens, não obstante a Suécia representar-se através de pressão efetiva em zonas subidas. Com Rui Patrício a comprometer ao nível do jogo de pés: se dentro dos postes nada há a apontar – a defesa que realizou logo nos primeiros minutos é de guarda-redes com reflexos – percebe-se por que razão Diogo Costa foi lançado às feras logo no jogo do play-off diante da Macedónia do Norte. Os tempos são outros e mesmo a seleção, tão vocacionada que está para um jogo de pequenas conexões, se sente mais desconfortável quando não tem o guarda-redes do FC Porto a comandar as operações (primeira fase de construção).

Numa vitória fácil, o jogo serviu para se afinarem procedimentos: manter as múltiplas dinâmicas ofensivas, assente num já revelado princípio de que não há margem para se mexer muito nas escolhas iniciais; depois, verificar a resposta de jogadores como Matheus Nunes, Jota Silva, Francisco Conceição ou Dany Mota em termos de grupo, seja pelo facto do autocarro possuir um lugar vago ou, por outro lado, pela necessidade de se criar um grupo sombra capaz de responder a qualquer intempérie.

Neste ramalhete, há também margem para revelações positivas: como foi o caso de Nelson Semedo, muito astuto na busca da profundidade/resposta ao passe longo culminadas quase sempre com boa definição, ele que foi médio na formação e que, como tal, também não estranha os terrenos mais ofensivos.

Se a seleção pode vencer o europeu? Sim, pode. Mas os passos grotescos ofuscam sempre a caminhada. Vamos por partes: preparar Chéquia, Turquia e muito provavelmente Grécia. Para depois ninguém vir dizer que o almoço da qualificação foi grotesco mas o jantar das decisões pobrezinho. Alimentação equilibrada, com um docinho e copo de vinho pelo meio, precisa-se e recomenda-se.

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