O português que lidera a Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL), Emanuel Medeiros, considera que a aplicação de critérios de "fairplay financeiro" no futebol europeu é uma das marcas dos seus nove anos de mandato.
Numa entrevista à agência Lusa, Emanuel Medeiros - que cessa funções na EPFL em finais de março - recordou que a associação que dirige desde 2005 "lutou" para afirmar o futebol europeu "como um setor autossuficiente, sustentável".
"Implicou travar às quatro rodas, criar uma consciência de que havia um conjunto de práticas de gestão de risco" entre os clubes europeus que os levaria inevitavelmente "a um abismo", afirmou o dirigente da EPFL, que atualmente congrega 30 ligas profissionais de futebol e quase 1.000 clubes.
Para Emanuel Medeiros, os clubes europeus iniciaram "uma espiral despesista", após o acordo Bosman, em 1995, "uma corrida aos melhores jogadores [...] que ameaçava colocar em crise a viabilidade financeira do futebol profissional na Europa".
A tarefa da EPFL, que cresceu do nada até se tornar numa entidade com mais de 50 representantes junto das instâncias como a FIFA, a UEFA ou a UE, passou também por sensibilizar estes organismos para a sustentabilidade da indústria do futebol, para a necessidade de criar regras para que os clubes vivam "de acordo com as suas reais possibilidades".
"A própria UEFA desenvolveu mais tarde o seu próprio conceito de 'fairplay financeiro'" e agora, disse Emanuel Medeiros, vai aplicá-lo até às últimas consequências.
"A UEFA será intransigente no cumprimento escrupuloso dos regulamentos e dos critérios financeiros. Os clubes que não esperem contemplações", disse Emanuel Medeiros.
Quanto a ameaças para a indústria do futebol europeu, o responsável da EPFL considera preocupante que existam responsáveis políticos na Europa e nos Estados-membros "sem a verdadeira noção" da importância do Desporto para a economia e para as sociedades.
Emanuel Medeiros destaca o caso de França, em que o presidente pretende aplicar uma taxa extraordinária de 75 por cento aos jogadores de futebol com rendimentos anuais superiores a um milhão de euros.
"É uma ameaça fatal à viabilidade e competitividade do futebol francês", considerou o dirigente português, afirmando que "isso vai conduzir a um êxodo dos melhores talentos do futebol francês para o outro lado do canal da Mancha".
A poucos meses de sair de funções (31 de março), Emanuel Medeiros diz sentir "muito orgulho e honra da obra" feita na EPFL, mas escusa-se a revelar que novos desafios vai agora enfrentar.
"Vou analisar calmamente todas as oportunidades que o futuro irá seguramente trazer, mas estou neste momento determinado em terminar o meu mandato e proporcionar uma transição tranquila", concluiu.