É frequente sermos confrontados com as declarações de alguém que diz querer 'jogar à'. Após a expressão segue-se o nome do clube. Na maioria das situações, não passa de uma declaração de intenções sem qualquer fundamento. Noutros casos, trata-se de uma manifestação, mais ou menos ingénua, sobre onde queremos estar.
Em raros momentos corresponde à máxima coerência entre o modelo de jogo de uma equipa, as características dos jogadores, a eficiência da hierarquia, as expetativas dos adeptos e a reputação que o clube construiu (em rigor, vai construindo). Depois de encontrada, esta combinação dificilmente pode ser abandonada. Todos esperam que essa promessa seja permanentemente cumprida, sobretudo os adeptos.
Facilmente nos recordámos de treinadores campeões que não colheram grandes simpatias porque o seu futebol não se adequava às expetativas da organização. De Giovanni Trapatonni, no Benfica, a Fabio Capello, no Real Madrid, passando por Mano Meneses ou Dunga, na seleção brasileira.
Contudo, é cada vez mais difícil conseguir esta fórmula. Estruturas voláteis, plantéis com diferentes sensibilidades, passagens efémeras... Enfim, são muitas as situações que não facilitam o papel convergente e estabilizador da marca (para a respetiva partilha) nos públicos internos. E esta pode ser uma situação penosa para a rotina de um clube e, como consequência, para a sua valorização.
Ninguém gosta de um clube que tem os adeptos insatisfeitos. E, como escreveu Fernando Paulico (num artigo de 2008 publicado na revista Gestin, do IPCB), o produto futebolístico é criado e consumido quase em simultâneo, com os consumidores a contribuírem para a criação do que consomem. Um grande ambiente no estádio é um tremendo passo rumo à mitificação da organização. E, depois de transcender a normalidade, esta torna-se mais apetecível. Mais uma prova de que os clubes precisam necessariamente dos adeptos nos estádios e de estruturar as suas marcas.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.