O médio galês Ryan Giggs, um caso raro de longevidade ao mais alto nível do futebol mundial, completa na sexta-feira 40 anos, 23 dos quais com a camisola do Manchester United, o único clube que conheceu como profissional.
Com quase 1.000 jogos pelos “red devils”, Giggs possui um currículo que a maioria dos clubes não desdenharia: um recorde individual de 13 títulos de campeão inglês, quatro Taças de Inglaterra e outras tantas Taças da Liga, nove Supertaças inglesas, duas Ligas dos Campeões, uma Supertaça europeia, uma Taça Intercontinental e um Mundial de clubes.
Nascido a 29 de novembro de 1973, em Cardiff, a preferência de Ryan Joseph Wilson pelo futebol em detrimento do râguebi – modalidades que praticou desde jovem - pode ter desagradado ao pai, Danny Wilson, antigo internacional galês de râguebi, mas a carreira do extremo do Manchester United prova que fez a escolha acertada.
O histórico treinador do United, o escocês Alex Ferguson, despertou cedo para o talento de Giggs, que entrou em Old Trafford aos 14 anos, abandonando o modesto Deans FC, clube da cidade de Salford, da área metropolitana de Manchester e que era orientado por Dennis Schofield, um dos olheiros do rival Manchester City.
Ryan Wilson, que passou a chamar-se Ryan Giggs após a separação dos pais, assinou o primeiro contrato como profissional no dia em que completou 17 anos e tornou-se num dos maiores símbolos do atual campeão inglês, rivalizando com nomes sonantes como Bobby Charlton, George Best e o próprio Ferguson.
Com 952 jogos e 168 golos pelo United, Giggs é um caso invulgar mesmo no centenário futebol inglês e são poucos os exemplos idênticos de longevidade e fidelidade a um grande clube a nível mundial, destacando-se o guarda-redes brasileiro Rogério Ceni no São Paulo e o defesa argentino Javier Zanetti no Inter de Milão.
O antigo internacional galês foi figura instrumental no renascimento do colosso de Manchester, que, sob a batuta de Ferguson, recuperou a hegemonia do futebol inglês, perdida para o Liverpool, e desafiou os grandes de Itália, Espanha e Alemanha nas provas europeias.
A forma dramática como conquistou a Taça dos Clubes Europeus em 1999 vai permanecer na memória coletiva: depois de chegar aos 90 minutos a perder por 1-0 com o Bayern de Munique, o Manchester United marcou dois golos em período de compensação, aos 90+1 e 90+3, o primeiro marcado por Teddy Sheringham após um remate de Giggs.
O segundo título europeu teve de esperar quase 10 anos pelo português Cristiano Ronaldo, autor do golo no empate 1-1 com o Chelsea, na final de 2008, decidida a favor dos “red devils” no desempate por grandes penalidades, no dia em que Giggs bateu o recorde de 758 jogos pelo United, que pertencia a Bobby Charlton.
Quase tão impressionante quanto o número de jogos é o seu registo disciplinar, pois o talentoso médio nunca foi expulso com a camisola vermelha do United, tendo recebido uma única vez a ordem de expulsão, em 2001, num encontro entre o País de Gales e a Noruega, por duplo cartão amarelo.
Condicionado pelo valor da seleção galesa, na qual sobressaia claramente da mediania dos restantes compatriotas, Giggs nunca chegou a disputar a fase final de um Europeu ou Mundial, terminando uma carreira internacional de 16 anos, entre 1991 e 2007, com um total de 64 jogos e 12 golos.
Quase “quarentão” e detentor de vários recordes de longevidade a nível inglês e europeu, Giggs jogou ao lado de nomes grandes da modalidade – alguns dos quais viu chegar e partir enquanto se mantinha fiel ao clube de sempre -, como Eric Cantona, David Beckham, Roy Keane, Peter Schmeichel, Bryan Robson, Ruud van Nistelrooy e, mais recentemente, Wayne Rooney.