Futebol é paixão, jogadas vistosas, artistas como CR7 e Messi, golos, defesas espetaculares, claques a puxar pelas suas equipas e espetadores incansáveis. Todos concordamos com estes predicados. No entanto, o futebol passou, nas últimas décadas, para uma dimensão cada vez mais profissional. Para se ter sucesso, não basta dominar a parte desportiva, é também preciso saber comunicar e liderar.
Temos inúmeros exemplos de treinadores que são de topo no que toca aos aspetos desportivos (tático, técnico, físico), mas que têm imensa dificuldade em fazerem passar a sua mensagem: seja aos jogadores, seja para o exterior, os meios de comunicação. No reverso da medalha, temos aqueles que são soberbos na forma como comunicam.
O FC Porto está a efetuar uma época muito irregular. O jogo dos azuis e brancos não convence os adeptos e o treinador está a ser fortemente contestado. Não me interessa analisar aqui as questões mais técnicas do trabalho de Paulo Fonseca, mas sim a forma como o técnico comunica.
Ser treinador num 'clube grande' não é o mesmo que sê-lo num clube de menor dimensão. Certas vezes, esta época, Paulo Fonseca deveria ter sabido dar um murro na mesa e apelar a uma maior união dos seus jogadores. Acredito que o tenha feito a nível interno, contudo, para o exterior, o discurso foi demasiado brando. Basta olhar para Mourinho, que sabe utilizar os encontros com os jornalistas para dar recados internos e externos. Para já, Paulo Fonseca não tem mostrado esta capacidade.
Outro erro do técnico do FC Porto prende-se com o facto de ter adoptado com demasiada facilidade o discurso do clube. O último confronto com o Benfica ditou a derrota dos azuis e brancos. No final do jogo, Paulo Fonseca não valorizou os erros de arbitragem. Procedimento que não adoptou depois de Pinto da Costa ter dado uma entrevista onde culpava o árbitro pela derrota da equipa. No dia seguinte, Paulo Fonseca foi à boleia do seu presidente e acusou mesmo a comunicação social de perseguição ao FC Porto. Falta de coerência que não o ajuda em nada.
Em Inglaterra, José Mourinho deu um show de liderança e comunicação no último jogo com o Manchester City. O treinador português surpreendeu tudo e todos quando disse que a palestra de pré-jogo tinha sido dada… pelo massagista. Uma jogada de mestre! Primeiro passou a mensagem interna de que todos no corpo técnico tinham a capacidade de fazer a diferença. Depois, mostrou uma enorme confiança nos jogadores. Externamente passou a mensagem de que a pressão de um jogo daquela dimensão não afeta ninguém no clube, já que até um massagista pode falar à equipa.
É claro que tudo isso correu bem porque o Chelsea ganhou. Se tivesse perdido, se calhar, nada disso se saberia, mas a isto chama-se controlo da comunicação e liderança forte. Talvez por isso Mourinho ganhe mais do que os outros.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.