Quando Eusébio chegou a Lisboa, trazia uma carta de recomendação da mãe para ser entregue a Mário Coluna, para que este olhasse pelo jovem que ia para o Benfica, onde o "Monstro Sagrado", sete anos mais velho, já era a grande referência.
As duas maiores figuras do futebol nascidas em Moçambique encontravam-se, finalmente, no mesmo clube, nesse ano de 1960, e preparavam-se para protagonizar juntos os melhores momentos da história do Benfica - a fabulosa década de 60 - e comandar Portugal na campanha do Mundial de 1966, coroada com o terceiro lugar, ainda o melhor de sempre para a equipa das "quinas".
As famílias Coluna e Ferreira conheciam-se em Lourenço Marques e o "Capitão" do Benfica não hesitou em colocar, quando Eusébio chegou, o talentoso jovem sob a sua "asa protetora", até aquele "explodir" com todo o seu talento, logo a partir de 1961.
Mário Coluna nasceu em Inhaca, a 6 de agosto de 1935, filho de mãe moçambicana e pai português, mas foi já em Lourenço Marques que começou a dar nas vistas em jogos de futebol, no Alto-Mahé. Depressa chegou ao Desportivo, filial laurentina do Benfica, que não teve problemas em ir buscá-lo, ainda júnior.
Quando Eusébio chegou, Mário Coluna já tinha oito épocas no Benfica e quatro títulos de campeão, sendo elemento fulcral na quebra da hegemonia do Sporting no futebol lusitano, com o clube da águia a equilibrar cada vez mais a "luta" entre os "eternos rivais".
"Capitão", "Monstro Sagrado", ou simplesmente "Senhor Coluna", a forma como Eusébio insistia em chamá-lo, foram as alcunhas que foi granjeando ao longo das 16 épocas com as cores do Benfica. No final, em 1970, deixava o seu clube como "número um" indiscutível em Portugal e mesmo como um dos grandes da Europa, com duas Taças dos Campeões ganhas e presença em outras três finais.
Coluna deixou a sua marca como um médio de eleição, sublime na construção do jogo, mas esteve para não ser assim: do Desportivo de Lourenço Marques chegara com credenciais de goleador e seria Otto Glória e compreender a sua verdadeira vocação e reposicioná-lo no terreno, deixando a "ponta da lança" para o eficiente José Águas.
Aos 34 anos, fechou a sua última época na Luz (1969-1970) com um jogo de despedida contra uma seleção de grandes jogadores vindos do estrangeiro - como Cruyff, Bobby Moore ou Luis Suarez. O Benfica deixava-o partir e não exercia o "direito de opção", permitindo-lhe mais uma época em França, muito bem paga, ao serviço do Olympique Lyon.
A despedida da seleção já tinha acontecido dois anos antes, em 1968. Desde uma estreia em 1955 (ainda com 19 anos...), foram 13 anos com a camisola das "quinas" e 57 jogos, entre os quais os da fabulosa campanha de 1966, ao lado do seu "afilhado" Eusébio, Simões, Torres e José Augusto entre outros.
Foi curta a experiência em França - os anos já começavam a "pesar" e as saudades eram grandes - e, de regresso a Portugal, tentou uma carreira de treinador, mas sem sucesso. Primeiro, os jovens do Benfica, depois o Estrela de Portalegre e ainda o Benfica de Huambo (Angola), onde estava aquando do 25 de Abril.
Depois da independência de Moçambique, pouco hesitou em dizer sim ao convite de Samora Machel e regressou. Tinha um lugar de deputado prometido e depois viria mesmo a ser o presidente da Federação Moçambicana de Futebol, em dois mandatos, assistindo ao "agigantar" dos "Mambas".
Talvez sem a força de Matateu e de Eusébio, Coluna foi o terceiro dos "grandes" do futebol nascidos em Moçambique e o único que preferiu reencontrar-se com as suas raízes. Aos 78 anos, o "Monstro Sagrado" tinha-se tornado um dos mais respeitados símbolos do desporto nacional moçambicano, só comparável à campeã olímpica Maria de Lurdes Mutola.