O sucessor de Sir Alex Ferguson aguentou cerca de dez meses no cargo. O lendário 'manager' escocês construiu e reconstruiu o mais bem-sucedido Manchester United da História ao longo de 27 temporadas, mas David Moyes nem chegou ao final da época de estreia.
Ambos são escoceses, ambos não fizeram uma boa primeira época à frente dos 'red devils', mas os dois tiveram destinos naturalmente diferentes. Como muitas vezes temos dito, a contextualização dos acontecimentos não pode ser menosprezada.
O Manchester United é uma verdadeira empresa. Muito provavelmente, os 'red devils' serão o clube inglês que despertará mais atenções em todo o Mundo. Nem sempre foi assim, naturalmente. Quando Ferguson começou não o era, por exemplo. Poucas formações se terão adaptado tão bem ao futebol atual como os ainda campeões da Premier League. Profissionalismo, mediatismo, negócio, bolsa de valores, investidores. Todos estes conceitos regem o dia a dia deste gigante do futebol. Todos eles se fizeram sentir severamente no curto reinado de David Moyes.
Um profissional vive, atualmente, de resultados e títulos. Estes são os indicadores de eficiência, que é uma das coisas que as empresas mais procuram. Ao longo da sua já longa carreira, o agora ex-treinador do Manchester United poucas vezes celebrou a conquista de um troféu.
Se olharmos para a sua longa passagem pelo Everton (12 temporadas), vemos que, apesar de ter sido boa, não foi extraordinária. E isto não contribuiu para a criação de uma reputação vencedora. O Manchester United é hoje conhecido por ganhar regularmente. Alex Ferguson era sinónimo de vitórias. David Moyes é um treinador de um outro campeonato.
Ora, esta dissonância entre expetativas e reputação não deu qualquer crédito a um percurso marcado por muitos desaires. Os resultados foram maus e David Moyes nunca pareceu ser alguém capaz de os inverter. A marca de Moyes não tinha traços de vitória e, como tal, a promessa que todas as marcas comportam não se revelou capaz de compensar os maus resultados.
A reputação a que aludimos no parágrafo anterior também saiu fortemente reforçada pela comunicação de David Moyes. O escocês raramente se mostrou um líder, expondo não raras vezes fraquezas comprometedoras. Em fevereiro último, após uma derrota com o Stoke City (2-1), o então responsável técnico pelos 'red devils' disse um muito sincero «não sei o que temos de fazer para vencer». Os media não perdoaram a falha, tal como os adeptos. Moyes, o que não sabe como vencer, não poderia funcionar no constantemente mediatizado Manchester United.
A forma como atuou no mercado também não contribuiu para reforçar a liderança de Moyes. No verão esperou até à última hora para contratar Fellaini ao Everton por uma pequena fortuna (mais de 30 milhões de euros). E o médio belga tarda em afirmar-se no colosso inglês. No mercado de inverno conseguiu o concurso de Juan Mata. O médio espanhol, proveniente do Chelsea, foi a contratação mais cara de sempre em Old Trafford, tendo custado cerca de 45 milhões de euros. Apesar da qualidade de ambos os jogadores, o futebol do Man Utd não apresentou qualquer sinal de melhoria ao longo destes dez meses. E Moyes pareceu um negociador mais ao estilo de Wenger do que de Ferguson…
A derradeira derrota com o Everton redundou na ausência do Manchester United das competições europeias do próximo ano, o que acontece pela primeira vez desde 1990. Sem elas – sobretudo, sem a Liga dos Campeões – o modelo de negócio dos grandes clubes sai amplamente prejudicado. Os investidores norte-americanos dos 'red devils' esperam retorno imediato, tal como todos os investidores atuais.
O Manchester United é um clube cotado em bolsa e um único mau ano tem grandes consequências. O tempo em que os treinadores tinham tempo acabou. Para o bem e para o mal. Falhar o acesso às provas europeias é a 'gota de água' que faz transbordar qualquer copo.
David Moyes teve muitas responsabilidades no seu fracasso ao leme dos ainda campeões ingleses. O escocês nunca pareceu estar adaptado ao contexto em que tinha de se mover. Contudo, também não deixa de ser verdade que é cada vez mais difícil sobreviver no futebol moderno. O seu fracasso pode, ainda assim, traduzir-se num dado positivo. A responsabilidade de suceder a Sir Alex Ferguson já não se fará sentir no próximo treinador do Manchester United. Os fantasmas da liderança forte já não estarão presentes sobre o ombro do próximo treinador dos 'red devils'.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.