O pragmatismo do treinador italiano Carlo Ancelotti pode ser considerada a personificação do desígnio supremo dos espanhóis do Real Madrid alcançarem o 10.º título de campeão europeu de futebol, que procuram há 12 anos.
Com duas Ligas dos Campeões conquistadas como treinador do AC Milan, em 2002/03, com Rui Costa como “maestro”, e 2006/07, Ancelotti foi o escolhido para cumprir esta missão, quiçá obsessão, “merengue”, depois das tentativas falhadas de José Mourinho, derrubado três vezes nas meias-finais.
O antigo médio combativo de Parma, AS Roma e AC Milan jogou na “sombra” dos compatriotas Roberto Baggio, Franco Baresi ou Paolo Maldini e, sobretudo, dos craques Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten, mas superou-os a todos assim que se tornou treinador.
Aos títulos conquistados em campo, incluindo dois europeus consecutivos, o último dos quais, em 1989/90, frente ao Benfica, “Carletto” não tardou a enriquecer o seu historial como treinador, tendo como primeira conquista a Taça Intertoto, pela Juventus, em 1999.
Seguiu-se o regresso a San Siro e a consagração como treinador. Em oito épocas, venceu apenas um “scudetto”, mas conquistou duas “Champions”, viu o Liverpool “roubar-lhe” uma terceira, e ainda arrebatou o Mundial de clubes, em 2007.
A sede de vencer levou-o ao Chelsea e à conquista da primeira “dobradinha” da história dos londrinos e, depois, ao Paris Saint-Germain, para recuperar o título francês que escapava aos parisienses desde o “reinado” de Artur Jorge.
À segunda tentativa, a primeira foi no verão de 2006, Florentino Perez conseguiu convencê-lo a cumprir o seu sonho de treinar o Real Madrid.
Os seus 54 anos oferecem-lhe a aparência de ser a calma em pessoa, mesmo que isso o distinga do seu antecessor, tal como escreveu o antigo companheiro Paolo Maldini na introdução da sua biografia, intitulada “Os jogos bonitos de um génio vulgar”.
“Ele, no fundo, parece um urso de peluche. O segredo do nosso sucesso assenta no facto de ele ser um homem normal. Não há necessidade de ser o ‘special one’, dois ou três para ganhar. É suficiente ter o equilíbrio interior para ficar longe dos holofotes e não soltar fogo-de-artifício em frente às câmaras de televisão”, referiu Maldini, no livro publicado em 2010.
Na obra, Maldini descreve “Carletto” como “um humorista incomparável, que consegue fazer piadas mesmo antes de um jogo da final da Liga dos Campeões”.
Provavelmente, após a final da “Champions” de 25 de maio de 2005, que o Liverpool “roubou” ao AC Milan, depois de ter chegado ao intervalo a perder por 3-0, o técnico terá perdido um pouco o seu sentido de humor, mas, mesmo assim, conseguiu ter uma perceção surpreendente da derrota.
“Eu posso ser louco, mas acho que a derrota de Istambul não foi completamente negativa, teve as suas razões e o seu valor. Ficamos prontos para começar do zero”, reconheceu Ancelotti. O tempo deu-lhe alguma razão, mais não fosse pela “vingança” servida, dois anos depois, em Atenas aos “reds” e a Rafael Benitez.
No sábado, o italiano tem a oportunidade de se desforrar do “rival” Atlético Madrid, o novo campeão espanhol, mas que bateu nas meias-finais da Taça do Rei, rumo ao título, conquistado na final com o FC Barcelona.