Arbitrar o “grande Maradona” num Mundial de futebol em pleno Estádio San Paolo foi privilégio de poucos e o português Carlos Valente é um dos três ex-árbitros que se pode gabar de o ter feito.
A 18 de junho de 1990, Carlos Valente dirigiu o último jogo da Argentina no Grupo B do campeonato do Mundo realizado em Itália, frente à Roménia (1-1), numa edição em que a seleção sul-americana chegou até à final, mas perdeu com a Alemanha.
“Arbitrar o Maradona e logo em Nápoles foi interessante, porque Nápoles era o mundo do Dieguito. Foi espetacular”, recordou à agência Lusa Carlos Valente, que não esquece o génio do “grande Maradona”.
Para o antigo juiz, “era maior a sensação de felicidade por arbitrar o Maradona do que a seleção da Argentina”, que era a campeã do Mundo em título, porque “o Maradona era um grande ídolo”.
Uma “felicidade” partilhada apenas por mais dois árbitros: o sueco Erik Fredriksson, que dirigiu o triunfo da Argentina sobre a União Soviética, por 2-0, e o francês Michel Vautrot, juiz da meia-final frente à Itália, que a equipa das Pampas venceu no desempate por grandes penalidades.
Apesar da admiração Maradona, Carlos Valente não se deslumbrou com o talento de “El Pibe” e o astro argentino, que no campeonato anterior, em 1986, tinha carregado sobre os ombros a Argentina até à conquista do troféu, ficou em “branco”.
O ex-árbitro dirigiu mais tarde o confronto da anfitriã Itália frente à República da Irlanda, que os transalpinos venceram por 1-0 e que representou a despedida de Carlos Valente dos palcos do Campeonato do Mundo.
“Quando chega a altura destes eventos, recordo com alguma nostalgia. Representa o corolário de um trabalho exaustivo durante muitos anos, com grandes dificuldades desde que se inicia a carreira nos campeonatos distritais”, assinalou.
Carlos Valente lembrou também a “ansiedade” que sentiu quatro anos antes, quando se estreou na grande competição, no Mundial de 1986, arbitrando o jogo entre a Hungria e a França, que os gauleses ganharam por 3-0.
Sob o ponto de vista português, o campeonato realizado no México ficou marcado pelo “caso Saltillo”, com os jogadores portugueses a exigirem melhores prémios pecuniários e a ameaçarem fazer greve, mas a polémica passou ao lado de Carlos Valente.
“Nós estávamos na Cidade do México, concentrados. Ouvia pelas notícias, mas as notícias no México não tinham tanto impacto como em Portugal. Não teve a repercussão que teve em Portugal”, explicou.