Euro-2004: Portugal organizou "o melhor campeonato da Europa de sempre"

“O nosso objetivo foi – e conseguimos, felizmente – entregar o melhor Campeonato da Europa de sempre e que, ainda hoje, não vi ultrapassado”, frisou Madail.

O então líder da FPF garantiu que nunca temeu que Portugal não justificasse a confiança do organismo europeu: “Para a UEFA, foi uma aventura, porque entregavam o Europeu a um pequeno país, o que foi uma decisão arriscada. Agora, nós estávamos convictos daquilo que queríamos fazer e prometemos”.

“Tínhamos reuniões diárias da comissão organizadora. Depois, foi constituída a empresa Euro2004, que foi aquela que impulsionou todo o projeto. Tínhamos reuniões em que fazíamos o ponto de situação e nós víamos que era possível”, explicou Gilberto Madail.

A realização da prova em Portugal nunca esteve em causa: “Nunca tive receio, nem isso nunca foi posto, como agora já tem sido posto, como foi posto na Áustria e na Suíça (2008), em que havia problemas na Áustria diabólicos com as questões fiscais. Nós aqui resolvemos tudo, todos esses problemas da fiscalidade, da livre circulação das pessoas”.

“Depois, na Polónia e na Ucrânia (2012), houve problemas e a UEFA ameaçou várias vezes que tirava o campeonato de lá. Aqui em Portugal, nunca houve isso, nunca houve esse perigo, apenas alguns atrasos pontuais, que, depois, foram, felizmente, recuperados. E nós tínhamos os estádios prontos, é bom que se frise, seis meses antes do início do campeonato. Estava tudo pronto”, frisou.

Para trás, ficava um processo complicado, entre 1999 e o dia do jogo inaugural (12 de junho de 2004), muito que teve se ser resolvido, das ligações ferroviárias e rodoviárias à construção de novos aeroportos e dos estádios.

“Tivemos alguns problemas em alguns estádios. Houve estádios até que estiveram parados, como o Estádio do Dragão – que esteve parado uma mês e meio, dois meses, e era uma fonte de preocupação nossa. Houve outro estádio que esteve sempre numa posição de para/arranca, que era o estádio do Benfica, o Estádio da Luz. Ora arrancava, ora não faziam, ora arrancava, ora não faziam”, lembrou.

De acordo com Gilberto Madail, “foi necessário um envolvimento muito grande e um diálogo muito grande com toda a gente, em Coimbra, em Aveiro, em Leiria, em todos os lados, no Algarve. Mas, houve, na generalidade, por parte dos presidentes de câmara, na altura, uma grande capacidade, uma grande vontade de colaborar para que este projeto fosse realizado”.

A oito dias do início do Euro2004 ainda havia coisas para resolver: “Tínhamos um estádio cujo relvado não estava em condições, embora tivesse um relvado novo. Oito dias antes, vi-me confrontado com ter de tomar uma decisão, porque a UEFA não quis tomar, de substituir o piso todo ou de procurar remediar o que estava. Falei com o presidente da câmara dessa cidade, falei com técnicos, até com jardineiros, para ver qual era a melhor solução”.

Neste longo processo, também houve um revés desportivo, o desastroso desempenho luso no Mundial2002: “Foi difícil (de gerir), foi difícil, claro. A nossa participação no campeonato de 2002 não foi sucedida, nem nada que se pareça”.

“Depois, porque foi envolta em casos, alguns virtuais, que não correspondem à realidade, outros que podem ter alguma base de veracidade. Nessa altura, eu estava a terminar um dos meus mandatos (17 anos na federação) e tive de pensar se ia concorrer ou não”, reconheceu Gilberto Madail.

A decisão foi continuar: “Através do apoio que a UEFA me deu, dizendo-me que não podia deixar um projeto que tinha sido entregue a Portugal - e eu estava a liderar o projeto -, decidi recandidatar-me, porque nessa altura até o Governo queria que eu fosse embora”.