O Mundial de futebol arrancou, esta quinta-feira, no Brasil, com manifestações em pelo menos quatro cidades do país, incluindo São Paulo, as quais resultaram em oito feridos.
Os incidentes mais graves foram registados precisamente na cidade sede da abertura do Mundial – que arrancou com o jogo entre o Brasil e a Croácia –, onde a polícia reprimiu um protesto de um grupo de manifestantes que utilizava máscaras com recurso a gás lacrimogéneo e a balas de borracha.
Os protestos contra a organização do Mundial pelos elevados custos para os cofres públicos estenderam-se inclusive até ao acesso ao estádio Arena Corinthians, onde se ouviram insultos contra a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, e contra o presidente da FIFA, Joseph Blatter, assim que ambos entraram no recinto, minutos antes do início da partida inaugural.
Em São Paulo registaram-se pelo menos sete feridos, incluindo dois jornalistas norte-americanos da CNN, enquanto em Belo Horizonte, outra das 12 sedes do Mundial, um fotógrafo da agência Reuters sofreu uma lesão ligeira no crânio após ter sido atingido por um objeto na cabeça durante um protesto.
Depois das manifestações – que foram pouco numerosas de acordo com as agências –, a Polícia Militar de São Paulo informou ter detido 29 pessoas no interior de uma universidade, as quais foram colocadas em liberdade pouco depois.
Contudo, segundo indicou, duas pessoas continuavam detidas pela participação em protestos que ocorreram antes do jogo inaugural do Mundial a cerca de quatro quilómetros de distância do Arena Corinthians.
No Rio de Janeiro, com cerca de 2.000 pessoas, as manifestações decorreram de forma pacífica e duraram cerca de duas horas, apesar de, no final, um pequeno grupo se ter envolvido em confrontos com a polícia que, à semelhança do que sucedeu em São Paulo, também usou gás lacrimogéneo para dispersar a manifestação.
Ao contrário dos protestos massivos que se verificaram no ano passado, que foram espontâneos e juntaram centenas de milhares de pessoas em todo o país em nome de melhores serviços públicos, as manifestações de quinta-feira foram convocadas com reivindicações específicas e apenas tiveram uma adesão mais significativa nas duas maiores cidades do Brasil.
Houve ainda manifestações menores designadamente em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Belo Horizonte (Minas Gerais) e Fortaleza (Ceará), todas com um denominador comum: queixas contra a FIFA, contra os elevados gastos dos estádios e contra as vantagens fiscais concedidas pelo governo brasileiro aos organizadores do evento.
Além de protestarem contra o Mundial, os manifestantes em São Paulo exigiram também a readmissão de 42 funcionários do metro, despedidos na sequência da sua participação na greve.
No Rio, entre os manifestantes havia também professores que reclamaram um maio investimento em educação, além de grupos feministas e militantes de partidos políticos de esquerda.
A repressão dos protestos, esta quinta-feira, em São Paulo foi alvo de críticas por parte da Amnistia Internacional (AI) que considerou que a polícia brasileira fez “uso desproporcionado da força”.
Pouco antes do início do Brasil-Croácia, registaram-se também protestos nas imediações de um recinto da FIFA instalado no areal de Copacabana para a retransmissão das partidas do Mundial.
Além dos protestos, vários sindicatos aproveitaram para convocar greves exigindo designadamente melhorias salariais e nas condições de trabalho.
Em greve estiveram, por exemplo, trabalhadores do pessoal de terra de três aeroportos do Rio de Janeiro, embora não se tenham verificado atrasos nem problemas operacionais significativos.
Uma greve de motoristas de autocarros também paralisou parcialmente a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, uma das sedes do Mundial, onde apenas 30% da frota se encontrava em circulação, o que causou alguns transtornos.
O Mundial de futebol decorre em 12 cidades do Brasil até 13 de julho, dia em que se realiza a final no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.