O empréstimo de Nani ao Sporting tem tudo para ser um caso interessante de gestão de reputação. Da reputação do jogador, do clube e do próprio campeonato nacional. O que é natural, já que o protagonista é um internacional português com apenas 27 anos, que chegou a ser uma das estrelas de um colosso como o Manchester United.
A propósito da chegada do atleta, Bruno de Carvalho não se coibiu de o designar como um dos melhores do Mundo na sua posição. E ninguém pode dizer que as palavras do presidente do Sporting são descabidas. Nani é, de facto, um enorme talento. Um talento que chegou a brilhar com grande intensidade, sob a omnipresente liderança de Sir Alex Ferguson.
Contudo, Nani procura há pelo menos dois anos um reencontro com a melhor forma. E este regresso a casa explica-se por este momento de menor fulgor. Regressar a casa é uma das hipóteses que Nani tem de restaurar os danos que duas más temporadas tiveram na sua reputação de um dos melhores futebolistas do Mundo.
Para Nani, ingressar num clube que confia nas suas capacidades e que tem adeptos que o acarinham, é aparentemente mais importante do que continuar em campeonatos mais competitivos, mas desconhecidos. Se assim for, ninguém pode dizer que esta opção não tem sentido. É natural que Nani queira recuperar o tempo perdido e o atual Sporting é atrativo. Para além de familiar e acolhedor, é um clube que disputa a Liga dos Campeões e que não tem problemas em assumir que luta pelo título. Ora, poder ser a estrela de uma equipa com estas características é aliciante. Contudo, esta opção não é apenas um mar de vantagens. Apesar de o Sporting ser um grande clube, é uma formação de um campeonato de segunda linha. Assim sendo, temos uma outra reputação a entrar em jogo.
O campeonato português é menos reputado que ligas como a italiana, a alemã e até a francesa. Gera menos atenção, menos dinheiro e é menos competitivo do que as competições citadas. E tudo isto gera um contexto particular. Brilhar em Portugal é uma coisa, brilhar em Itália é outra, por exemplo. Ora, em teoria, as melhorias da reputação de um atleta são mais efetivas quando realizadas em contextos reputados. Tendo isto em conta, os jogos da Liga dos Campeões prometem ser muito importantes para a recuperação de Nani, visto que serão a maior montra à sua disposição.
A permuta de reputações a que aludimos no parágrafo anterior também funciona em sentido inverso. Um campeonato menos reputado ganha grandemente – atenção, mediatismo, competição, etc. – com a chegada de um atleta de nível mundial. O mesmo sucede com o clube. O reinado de Bruno de Carvalho tem aqui um ponto alto. Para além de coerente com o projeto, tem a vantagem de ter assegurado uma jóia da coroa, mesmo que por empréstimo. Há, portanto, um passo em frente.
A centralidade de Nani tem sido uma aposta declarada do atual Sporting. Apesar dos desafios que acarreta – pressão, sobretudo, o que se pode revelar excessivo para um atleta a viver um momento de forma pouco interessante – não podia deixar de ser de outra maneira. Nani é uma estrela e ninguém o poderia esconder.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.