Mário Figueiredo considerou hoje, em entrevista à RTP, que o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol não tem competência nem legitimidade para pronunciar-se sobre as eleições da Liga de clubes (LPFP).
“Trata-se de uma questão de defender a legalidade. No meu entender, o Conselho de Justiça não tem competência para se pronunciar sobre as eleições da Liga. Isso cabe aos tribunais. O Conselho de Justiça (CJ) foi criado por pronunciar-se sobre questões de desporto. Este trata-se de um ato eleitoral, não tem nada a ver com desporto”, começou por dizer o presidente da LPFP.
Para Mário Figueiredo, o CJ “está a fazer usurpação de funções”.
“As decisões do CJ são todas ilegais. Não me posso conformar com uma situação destas, que é completamente ilegal”, prosseguiu.
O presidente da Liga garantiu que se há alguma coisa de que pode ser acusado é de cumprir com os objetivos a que se propus no seu mandato.
“Podem acusar-me de ter cumprido aquilo que prometi e de o ter feito com toda a honestidade. Isso pôs em causa os interesses impostos no futebol português há 20 anos. Nos últimos 20 anos tivemos um futebol ancorado num conjunto de poderes de facto que dominavam o futebol em Portugal, em termos económicos, com as transmissões televisivas, e na arbitragem. Essas pessoas desenvolveram uma teia de influência que nem o poder executivo conseguiu penetrar”, realçou.
Mário Figueiredo defendeu que, em 2010, “uma candidatura foi formada para tomar de assalto a Liga para controlar a arbitragem”.
“Quando a arbitragem mudou para a federação esse presidente mudou-se de armas e bagagens para a federação (FPF). As pessoas que estão à frente dos destinos do futebol fizeram-no para perpetuar um sistema que dura há muitos anos”, apontou, numa das críticas não explicitas ao presidente da FPF, Fernando Gomes, que indicou como responsável pela má prestação da seleção portuguesa no Mundial2014.
Para o presidente da LPFP, os clubes estão “reféns da federação”, tal como estavam dos direitos televisivos, facto que, na sua opinião, explica os meros sete votos com os quais foi eleito para novo mandato.
“Eu não tenho inimigos. Defendo princípios, interesses dos clubes e integridades das competições. Não se pode aceitar que uma pessoa que nada tem a ver com o futebol é que decida os destinos dos clubes e que tenha posições privilegiadas em alguns deles. Os clubes que estão a apoiar-me têm sido crucificados. O intermediário continua a ser a pessoa que paga aos clubes. Em muitos casos, as receitas das transmissões televisivas representam 80 por cento”, explicou.
Segundo Figueiredo, os clubes estavam a ser “pressionados e manietados” antes da Entidade da Concorrência ter decidido de modo a acabar com aquilo a que chama “posição dominante” na venda dos direitos televisivos.
O presidente da Liga Portuguesa de Futebol escusou-se a nomear quem são “as pessoas” que estão na origem dessa “teia de influência” e defendeu que a nomeação de árbitros tem de ser feita de forma transparente, exemplificando com o caso do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, “aquele que menos tem beneficiado com o sistema do futebol português”, que já percebeu que não pode discutir pessoas, mas sim o sistema de escolha.
Figueiredo respondeu ainda às críticas que dizem que a LPFP está falida e, por esse motivo, não apresenta contas, acusação que contrapôs com o argumento de que as contas e os orçamentos foram apresentados, mas rejeitados pelos clubes.
Mário Figueiredo interpôs na semana passada uma providência cautelar para travar os acórdãos do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol que obrigam à repetição das eleições na Liga.
O primeiro destes acórdãos do Conselho de Justiça da FPF surgiu em finais de julho e, na prática, obrigava à repetição do ato eleitoral na Liga de Clubes de 11 de julho, quando Mário Figueiredo - a concorrer sozinho por invalidação das outras listas - foi reeleito para um novo mandato.