Estamos no início de outubro e, embora a época seja ainda uma criança, já se podem tirar algumas ilações daquilo que aconteceu e poderá acontecer num futuro próximo nos destinos de Benfica, FC Porto e Sporting. Ponto de partida: os ‘três grandes’ de Portugal estão a representar o país na Champions League e todos assumiram a luta pelo título da Primeira Liga.
Em termos internos, se calhar contra as expetativas de muitos comentadores no início da época, o Benfica tem estado melhor. As águias conseguiram segurar o seu tridente mais importante (Enzo, Gaitán, Salvio) e a permanência dos três sul-americanos tem sido suficiente para Jorge Jesus ser, neste momento, líder isolado da Primeira Liga.
Digo que tem sido suficiente porque não é certo que continue a sê-lo. Os dois primeiros jogos do Benfica na Champions League (duas derrotas) deixaram claro que o plantel é bastante mais curto em relação ao ano passado. Pelo menos por agora. A saída de Garay não tem sido colmatada de nenhuma forma por Jardel, não existe um trinco com o nível de Matic nem mesmo do lesionado Fejsa e Lima está uns furos abaixo daquilo que mostrou na parceria que manteve com Rodrigo Moreno. Eliseu tem cumprido mais em termos ofensivos do que defensivos.
Em suma, não será arriscado afirmar que Talisca é o único reforço que acrescentou um valor justificável à equipa. Eliseu também, mas será que não poderia ser ainda mais útil numa posição mais avançada do que recuada? Afinal, Jesus contratou Loris Benito e Djavan para defesa-esquerdo: o primeiro ainda não jogou, o segundo foi despachado para o Sp. Braga.
O FC Porto continua sem convencer totalmente: nem adeptos nem críticos. Se parece indesmentível que os azuis e brancos possuem matéria-prima de grande qualidade, Lopetegui continua sem encontrar um modelo de jogo claro e que seja interpretado de forma inequívoca pelos seus jogadores. Aos dragões, falta personalidade e identidade a tempo inteiro.
Se na Primeira Liga seguem com três empates consecutivos, a quatro pontos do líder Benfica, na Champions League encabeçam o seu grupo, embora tivessem sofrido bastante para empatar no terreno do Shakhtar (2-2), na última terça-feira.
O meio-campo tem sido a grande dor de cabeça para Julen Lopetegui. Casemiro não é trinco, Rúben Neves também não. Ivan Marcano cumpriu bem a função na Ucrânia, frente ao Shakhtar Donetsk, mas será uma aposta segura para essa posição durante a temporada? Neste mar de incertezas, Herrera tem sentido dificuldades para chegar à área e Oliver Torres ainda não se afirmou com um único papel: é médio interior ou extremo? Quintero também vai mostrando serviço, a espaços.
Resultado: Lopetegui consegue sempre mexer com a partida quando recorre ao banco de suplentes, mas as primeiras partes têm sido penosas. A posse de bola tem trazido segurança, mas é muitas vezes inconsequente. Entre os ‘três grandes’, o FC Porto será o conjunto com mais condições para fazer uma grande temporada. 'Só' falta materializar todo este potencial em resultados e exibições de requinte.
E o Sporting? Marco Silva foi aposta para substituir Leonardo Jardim e, até ao momento, o treinador ex-Estoril Praia tem mostrado trabalho e resultados satisfatórios, tendo em conta os recursos que lhe foram oferecidos por Bruno de Carvalho.
O grande ‘Calcanhar de Aquiles’ da turma leonina continua a ser o eixo defensivo: Maurício e Naby Sarr não são uma dupla de topo na Primeira Liga e muito menos na Champions League. Frente ao FC Porto ‘meteram água’ e frente ao Chelsea, não fosse Rui Patrício, o espaço concedido entre linhas a Diego Costa poderia ter sido fatal.
Depois, a mesma questão de sempre. Como clube formador de jogadores, o Sporting coloca-se muitas vezes numa situação ingrata. É elogiado e reconhecido por lançar na equipa titular nomes como Jonathan Silva, João Mário e Carlos Mané, mas nem sempre o risco de apostar em jovens é recompensado com títulos. E Bruno de Carvalho já afirmou publicamente (será que fez bem?) que a Primeira Liga é um objetivo para o Sporting.
Tem sido um início de época muito interessante e este intrometimento do Sporting numa luta que nos últimos anos pertenceu apenas a Benfica e FC Porto trouxe um pouco mais de sal à Primeira Liga. Siga a marcha!
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