No futebol da Europa mais Ocidental, muito provavelmente só num dos países da Península Ibérica é que um dérbi disputado com um futebol desinteressante pode ser ainda notícia uma semana após o jogo. E, como não podia deixar de ser, não se fala de futebol: fala-se de intrigas, egos, violência e mau gosto.
Um empate consentido nos últimos segundos é sempre desagradável para quem estava em vantagem. Um empate conquistado nos derradeiros momentos é invariavelmente satisfatório para a equipa que estava a instantes de averbar uma derrota.
Quer num caso quer noutro, as emoções subiram, chegando à flor da pele. O que não é surpreendente, servindo até de atenuante para qualquer lamento ou exaltação ligeiramente mais emotiva. O que já não pode ser encarado com normalidade é todo o triste espetáculo que ainda hoje é notícia.
A violência, as tarjas criminosas e os engenhos pirotécnicos são um fogo que precisa de ser combatido com veemência e prontidão. Os clubes, entidades que se querem superiores à minoria que insiste em prejudicar o futebol, devem ser um dos principais contribuintes para a sua extinção.
Contudo, Sporting e Benfica têm-se revelado como perfeitos combustíveis para a estupidez de uns quantos. Dois dos maiores clubes portugueses comportam-se como os piores clubes dos mais pequenos bairros. O comportamento de ambos apenas serve para gerar más perceções: nos adeptos comuns, que apenas querem poder ver futebol, nos vândalos e nos eventuais financiadores do nosso campeonato.
Uma reação incompreensivelmente tardia juntou-se ao regresso do disparo rápido pouco pensado. Não é compreensível que Luís Filipe Vieira só agora tenha condenado as tarjas alusivas ao very-light que matou uma pessoa. Não se percebe como é que Bruno de Carvalho insiste numa retórica carregada, mas oca, que quase lhe custou um excelente treinador.
Irresponsáveis, um e outro. Qualquer um destes presidentes – e falo só destes porque em causa está apenas o último Sporting-Benfica, caso contrário outros estariam no mesmo saco – tem contribuído largamente para que o nosso futebol tenha um clima quase irrespirável, se não mesmo doentio. Nenhuma destas situações é nova, nenhum dos clubes é virgem: ambos já estiveram associados a atos infelizes e nunca qualquer um dos responsáveis máximos em causa mostrou a mínima determinação em gerar uma mudança. E os resultados só podiam ser estes: os arruaceiros saem reforçados, os adeptos deixam de se sentir seguros num simples jogo de futebol e o nosso campeonato perde valor.
Coincidentemente, enquanto éramos brindados com este circo de mau tom, chegou-nos a notícia do valor extraordinário que os direitos televisivos do campeonato inglês atingiram: cerca de 2,3 mil milhões de euros por ano, durante três temporadas, começando em 2016/2017. A Premier League tem estádios cheios e não é raro ver nestes famílias inteiras a assistir a um espetáculo desportivo.
Em Inglaterra fez-se o trabalho de casa e percebeu-se que um campeonato é um sistema que precisa de ser equilibrado. Lá não há clubes na miséria porque dois ou três tubarões querem todo o bolo. Lá percebeu-se a importância de pensar para além dos próprios quintais. Por cá ainda andamos com guerrilhas e exibições de autoritarismos para a afirmação de uns quantos egos e trincheiras. O que não acrescenta valor, só o diminui.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.
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