As pré-temporadas são pródigas em notícias que nunca se concretizam. Na verdadeira torrente de comunicação que antecede e acompanha o início dos trabalhos das equipas de futebol, as eventuais contratações destacam-se entre os conteúdos veiculados pelos media. E estes são um grande desafio para os clubes, sobretudo os mais mediáticos.
Importa identificar a origem dessas notícias. Há duas mais comuns, podendo estar relacionadas. Uma é a replicação de conteúdos publicados noutros espaços, sobretudo em meios de comunicação social. Outra é bem mais complexa, pois a explicação está nas muitas partes interessadas nos negócios do defeso e que fazem chegar informações aos jornalistas. Que ninguém tenha dúvidas: uma boa parte das notícias têm origem ora nos empresários dos jogadores, ora nos clubes interessados, ora nos clubes de origem, ora nos clubes rivais. Os propósitos são vários: inflacionar o preço, colocar pressão sobre as negociações, embaraçar adversários, testar a opinião do público, etc.
Assim sendo, em muitas das notícias não há fumo sem fogo. Como devem então as organizações em causa reagir? Tornar os desmentidos num hábito regular implicaria confirmar implicitamente todas as informações que os clubes não contrariassem. Deixar passar em claro conteúdos que se sabe provirem dos rivais seria consentir danos na preparação da época e nas expetativas criadas.
Estes dois exemplos mostram que o terreno em causa é movediço. E que muito provavelmente uma estratégia de resposta teria de ter duas facetas: uma pública, outra de bastidores. Nesta última falo de spin. Que seria combater o fogo com o fogo, seria influenciar os conteúdos ainda na sua preparação pelos jornalistas. Seria enquadrar estes profissionais, no fundo. Quanto à primeira, parece-me evidente que o silêncio cria ruído. Por isso impõem-se que, de tempos a tempos, um alto responsável do clube assuma publicamente a condução dos próprios destinos. Ou seja, não se trata de confirmar ou desmentir declarações, mas de garantir aos adeptos, por exemplo, que o clube está no controlo das situações e a preparar a temporada de acordo com objetivos definidos internamente.
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As muitas contratações e interesses anunciados criam expetativas, alimentam ideias de projetos. Podem criar confiança ou desânimo infundados. Por isso é tão importante não desistir de trabalhar a comunicação dos clubes, não negligenciar a criação de perceções nesta altura. Este período de transferências que vivemos e que antecede a pré-temporada tem sido um perfeito exemplo dos muitos desafios que se colocam diante das organizações.
A novela Maxi Pereira é emblemática. Depois da saída de Jorge Jesus, a mudança do defesa uruguaio para o FC Porto seria um duro golpe nas perceções dos benfiquistas. Mais até do que a troca de treinador, estou em crer. Isto porque é pública a vontade do Benfica em manter o atleta, o que já não aconteceu com o treinador. Assim sendo, a derrota seria indesmentível.
Mas também para o FC Porto há riscos. Porque os valores que têm vindo a público são elevadíssimos para um futebolista de 31 anos, o que implicaria exibições e influência a condizer. A cobrança seria muita, portanto. E uma permanência de Maxi na Luz também não poderia deixar de ser vista como uma derrota: ao contrário do Sporting, o FC Porto não iria conseguir atacar um grande rival, por exemplo. Assim sendo, os dois clubes têm e terão muito a comunicar, independentemente do resultado. Mesmo sem jogos, o futebol continua intenso.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.