O presidente demissionário da FIFA, o suíço Joseph Blatter, demarcou-se hoje do trabalho dos membros do comité executivo do organismo, envolvido num escândalo de alegada corrupção desde meados de maio.
“O presidente da FIFA deve trabalhar com as pessoas designadas pelas confederações. Não posso ser responsável pela conduta de pessoas que não escolhi”, refere Blatter numa coluna de opinião na FIFA Weekly, uma publicação do organismo.
Blatter, que poucos dias depois da eleição para um quinto mandato colocou o lugar à disposição devido ao escândalo de corrupção, assegura ser capaz de se defender sozinho.
“A indignação geral que tem assolado a FIFA tem recaído sobretudo na minha pessoa. Não tenho problema nenhum com isso, porque me posso defender. Apelo ao sentido de justiça da opinião pública”, refere Blatter.
O presidente da FIFA considera ser “impossível mudar a moral das pessoas”, mas diz acreditar que se pode “controlar melhor o comportamento humano”.
Blatter refere que em 40 anos de trabalho na FIFA já passou “por quase tudo o que se pode passar no futebol” e alude ao facto de algumas confederações darem pouca importância às questões de ética.
“Quando a FIFA quis a aplicar regras de conduta ética a toda a organização, todas as confederações, exceto a asiática, se opuseram. A UEFA não tem atualmente nenhuma comissão de ética. A federação alemã também não”, assinalou.
A terminar, Blatter afirma que “apesar de ser o foco, a questão de quem ocupa a presidência é um assunto marginal” e deixa um apelo ao congresso, agendado para dia 20 de julho: “Espero que congresso não se fique pela aparência, porque o que está em jogo é, nem mais nem menos, que o futuro da FIFA.
O escândalo de corrupção eclodiu dias antes das eleições para a presidência da FIFA, às quais Blatter, de 70 anos, se recandidatava pela quinta vez.
Apesar da convulsão na organização, Blatter manteve a sua candidatura e ganhou as eleições, para anunciar dias depois a intenção de renunciar à liderança, sob intensa pressão internacional.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou em maio nove dirigentes ou ex-dirigentes e cinco parceiros da FIFA, acusando-os de conspiração e corrupção nos últimos 24 anos, num caso em que estarão em causa subornos no valor de 151 milhões de dólares (quase 140 milhões de euros).
A FIFA suspendeu ainda provisoriamente 11 pessoas de toda a atividade ligada ao futebol: os nove dirigentes ou ex-dirigentes indiciados e ainda Daryll Warner, filho de Jack Warner, e Chuck Blazer, antigo homem forte do futebol dos Estados Unidos, ex-membro do Comité Executivo da FIFA e alegado informador da procuradoria norte-americana, que já esteve suspenso por fraude.
Simultaneamente, as autoridades suíças abriram uma investigação à atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022 à Rússia e ao Qatar.