Vários árbitros de futebol foram ouvidos hoje no âmbito do processo Cardinal, afirmando que se sentiram inseguros após ter sido divulgada uma lista com dados pessoais de 25 árbitros na época 2011/2012.
O antigo vice-presidente do Sporting Paulo Pereira Cristóvão está a ser julgado por um crime de burla qualificada, outro de branqueamento de capitais, dois de peculato, mais um de devassa por meio informático, um de acesso ilegítimo e, por fim, um de denúncia caluniosa agravada.
Em mais uma sessão do julgamento, prestaram depoimento, através de videoconferência, Artur Soares Dias, Jorge Sousa, Vasco Santos e Rui Silva, quatro dos 33 árbitros que surgem no processo por reclamarem uma indemnização pela divulgação de dados pessoais na época 2011/2012.
Artur Soares Dias, da associação do Porto, assumiu que quando soube da existência da lista sentiu que a sua família podia estar em risco, pois qualquer cidadão que tivesse acesso aos dados podia ter "um momento de loucura e um comportamento socialmente incorreto".
O árbitro internacional, que diz ter visto na lista "moradas, números de telemóvel e graus de parentesco" explicou que recebeu vários contactos de pessoas que não conhecia e que tomou várias medidas de precaução.
"Por várias vezes fui abordado via telefone por pessoas que não conheço. Tenho colegas que passaram pela mesma situação. Aumentei a minha vigilância, tomei diligências com o banco. Acrescentei câmaras de vigilância em casa", disse.
Artur Soares Dias negou ter recebido algum tratamento especial quando arbitrava jogos do Sporting no Estádio de Alvalade, explicando que expulsou Paulo Pereira Cristóvão por ser um elemento estranho ao jogo, a 22 de dezembro de 2011, num encontro da Taça de Portugal entre o Sporting e Marítimo.
Jorge Sousa, considerado o melhor árbitro português em 2014/2015, explicou não conseguir ser "preciso nem rigoroso" sobre quem divulgou os dados, assumindo que sente "revolta e nojo" sobre a divulgação da lista, acrescentando ser "uma grande coincidência" o ataque informático que ocorreu ao sítio da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF).
Outros dos árbitros que participou na sessão, Vasco Santos, explicou que a divulgação dos dados lhe causou "revolta e receios", que o faziam "desconfiar de toda a gente", salientando que teve de "alterar algumas rotinas", nas quais salientou ter deixado "de andar com a filha de três anos na rua".
O árbitro, de 39 anos, afirmou ainda que na época 2011/2012, num dos encontros que dirigiu em Alvalade, lhe foi oferecida uma camisola do Sporting com o seu nome e idade, bem como uma mascote do clube.
Rui Silva, árbitro de Vila Real, mostrou também medo relativamente à divulgação dos seus dados, uma vez que a sua profissão "mexe com paixões", sublinhando que já teve "jogos complicados" em que teve medo que estivessem "à porta de casa para fazer mal à família".
Para a parte da tarde são esperadas mais oito depoimentos, sete dos quais árbitros de futebol, no âmbito deste julgamento.