Oito jovens de regiões e famílias carenciadas partem na sexta-feira para a Holanda para representar Portugal no mundial de Futebol de Rua, conscientes de que estão a viver “um sonho autêntico” e com muita vontade de o vencer.
“Vamos tentar chegar ao primeiro lugar, era a cereja no topo do bolo vir para Portugal no dia 20 com o troféu do primeiro lugar”, diz Vítor Silva, 24 anos, um dos selecionados para representar o país.
A treinar num campo montado junto do Estádio da Luz (patrocinado pela Fundação Benfica) o jovem faz um intervalo para dizer à Lusa que o grupo que conheceu é “cinco estrelas” e que por isso já ganhou, pelo que o que vier a seguir “é por acréscimo”.
“Sei que quando chegar da Holanda a minha vida continua a mesma, é cair na realidade outra vez, porque no momento aqui, eu e os meus colegas todos, estamos a viver um sonho autêntico”, diz Vítor Silva, eletricista de profissão e um apaixonado pelo futebol.
É futebol que vão jogar na Holanda mas com regras específicas, em campos de 10 jogadores, de 60 países, uma iniciativa de inclusão pelo desporto que começou em 2003 e na qual Portugal participa desde 2004 através da associação CAIS, também conhecida pela revista com o mesmo nome e que se destina a apoiar os sem-abrigo.
Não são sem abrigo os jovens que viajam na sexta-feira para a Holanda. Gonçalo Santos, coordenador do projeto Futebol de Rua, explica: “O denominador comum é que todos são pessoas que são acompanhadas por Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e projetos de cariz social que com eles trabalham, no seu projeto de vida para melhorar quer as suas condições de vida quer a do agregado”.
E participar na iniciativa muda a vida de alguém? “Obviamente que muda”, responde o responsável, explicando que não terá um impacto tão grande nos que participam nos torneios locais mas que já terá mais importância nos escolhidos para a final nacional. E nos oito que saíram dessa final, agora de partida para a Holanda, o “impacto é significativo nas suas vidas e por contágio nas comunidades, onde se tornam líderes e referências”.
Miguel Romão, 26 anos, de Beja, é outro dos “eleitos”, também com uma semana de treinos em Lisboa à qual se juntou ainda visitas (a museus por exemplo) e contactos com profissionais de futebol (da equipa principal do Benfica).
“O facto destes miúdos se encontrarem e partilharem momentos juntos, chorarem e rirem juntos, já muda tudo na nossa vida”. Miguel joga futsal há seis anos, quer ganhar (“todos temos o mesmo objetivo”, diz) o campeonato, e admite que é preciso “suar bastante” e que é “sempre uma responsabilidade muito grande” representar o país.
Com mais de uma década de participações os jogadores lusos ainda que nunca tenham ganhado a taça do primeiro lugar têm conseguido bons resultados, estando atualmente em terceiro lugar no ranking, atrás do Chile e do Brasil e à frente do México.
Os oito participantes deste ano (só se pode participar uma vez) estão confiantes e bem dispostos, embora lamentem o calor dos últimos dias, e querem continuar a tradição. Afinal são eles o resultado de seis meses de torneios locais, de um torneio nacional (cinco dias, também com atividades culturais, recreativas e educativas), e do envolvimento de mais de 900 pessoas, 200 técnicos, 100 voluntários e 90 IPSS, nos números de Gonçalo Santos.
Tranquilo, o responsável cita as várias iniciativas que existem do género, do Festival Europeu de Futebol de Rua ou a outros organizados pela FIFA e pela UEFA, e nos quais a CAIS está envolvida. “As oportunidades internacionais estão a crescer”, afirma.
Para já é o Campeonato do Mundo, para segurar ou melhorar um terceiro lugar. Ainda que Portugal não tenha os mesmos recursos de outros países, a nível da avaliação do impacto do projeto o país é com a Inglaterra o melhor classificado. “É a boa maneira portuguesa, de conseguirmos fazer muito com pouco”, diz Gonçalo. Muito “era a cereja no topo do bolo”.