Joel de Castro sonhou ser treinador de futebol em Portugal, a oportunidade não apareceu e foi em Cabo Verde onde concretizou o sonho, entrando logo para a história como o primeiro português a orientar uma equipa no país.
Depois de em Portugal ter trabalhado nos escalões de formação do Viarense e do Sporting de Pombal, Joel de Castro chegou em Cabo Verde em 2011 para trabalhar num restaurante do pai na ilha do Sal. Na bagagem tinha a paixão pelo futebol e ambição de seguir carreira como treinador principal.
Regressou à Europa em 2013, tendo feito um curso para treinadores em Portugal e Inglaterra, mas não se esqueceu de Cabo Verde.
Voltou a pisar o país africano em 2014, agora mais capacitado, e foi orientar o Spartak da ilha do Fogo, entrando logo para a história como o primeiro português no comando de uma equipa de futebol em Cabo Verde.
Logo no ano de estreia acrescentou mais um capítulo a esta história, ao levar o Spartak à conquista do título regional do Fogo pela primeira vez. Ganhou direito a disputar o campeonato nacional, no qual, entretanto, não foi tão feliz, ao ser eliminado na fase de grupos.
Esta época, Joel de Castro deu o salto para o Boavista da Praia, um clube histórico da capital cabo-verdiana, com outras condições e que aposta muito nas capacidades do técnico português, não só para revalidar o título de campeão regional de Santiago Sul, como também para vencer o campeonato nacional, que conquistou pela última vez em 2010.
"Agora o futuro vai falar por si. Aqui a realidade é outra, é outro objetivo e outra perspetiva. Mas quero sempre deixar a minha marca e, se for uma imagem positiva, ainda melhor", disse à agência Lusa o técnico, de 31 anos, natural de Castelo Branco.
Nem tudo é um mar de rosas em Cabo Verde e Joel de Castro, lamentando as dificuldades sentidas pelos clubes, disse que o futebol no país "ainda não atingiu um patamar de excelência".
Entretanto, garante que quer dar o seu contributo para melhorar e organizar cada vez mais o nível do desporto-rei no país "lá onde for possível", até porque, notou, Cabo Verde passou a valorizar mais os treinadores de futebol.
Joel de Castro exemplificou com o sucesso de Portugal - melhor jogador do mundo (Cristiano Ronaldo), há muito tempo com mínimo de dois clubes na Liga das Campeões e resultados nas seleções - para dizer que vale a pena Cabo Verde apostar nos treinadores lusos.
"Os métodos de trabalho são completamente diferentes e só por aí os jogadores sentem-se mais motivados", salientou o treinador, que assinou contrato de dois anos com o Boavista da Praia, enfatizando que tem tido "alguma liberdade" para trabalhar a estrutura dos clubes.
"No Spartak penso que foi um passo adiante e agora no Boavista da Praia passa pelo mesmo: não só no campo, mas também tentar organizar melhor naquilo que for possível", prosseguiu após um dos treinos de pré-época dos 'axadrezados' da capital cabo-verdiana.
A única sessão de treinos diários arranca às seis da manhã, tão cedo porque três dos melhores jogadores do clube têm que se apressar para chegarem a tempo ao posto de trabalho. Em Cabo Verde o futebol ainda é amador, embora com muito semiprofissionalismo.
Questionado se tenciona regressar a Portugal, Joel de Castro torce o nariz, por agora, recordando que, após conquistar o campeonato regional na ilha do Fogo, esteve em Portugal, mas não teve a ligação que queria com o futebol no país.
"Tive algumas propostas, mas não aquilo que ambicionava e que estava à espera e daí ter recebido a proposta do Boavista e ter vindo", recordou, recomendando mais atenção ao futebol de Cabo Verde e assumindo, ainda assim, que poderá trabalhar em Portugal, "como noutra parte qualquer".
"A vida do treinador é vista com títulos. Se ganhas estás sempre mais perto de atingir outros patamares", disse, esperando também ganhar "outra estabilidade" no arquipélago que escolheu para lançar uma carreira de treinador de futebol que espera seja de mais sucessos.