Não é raro ouvirmos dizer que o Real Madrid é o maior clube de futebol do Mundo. Apesar de, muitas vezes, esta conclusão provir de gente ligada aos madrilenos, num claro esforço de gestão de marca, também é verdade que haverá poucas organizações tão relevantes para tanta gente como o Real Madrid. Nenhum passo dos merengues é dado sem ser altamente escrutinado. Tudo o que envolve a formação da capital espanhola tende a gerar um grande impacto.
A temporada 2015/2016 tem sido particularmente propensa ao surgimento de situações embaraçosas. Como recordou o jornal catalão Sport na passada sexta-feira, esta época tem-se revelado um 'annus horribilis' em matéria de perceções. Praticamente tudo o que o Real Madrid faz ou deixa de fazer tem-se traduzido em danos para a imagem do clube.
Da saída sem honra ou glória de um símbolo como Iker Casillas à utilização irregular de Cheryshev na Taça do Rei, passando pelo verdadeiro ato falhado em que redundou a tentativa de contratação de David De Gea, têm sido demasiados os erros para um clube com estatuto de gigante. As consequências são óbvias, com os danos na reputação a serem uma evidência. Estes consubstanciam-se de maneira acentuada em volta de duas figuras particularmente sensíveis para qualquer organização desportiva: o presidente e o treinador.
VISITE O BLOGUE MARCAS DO FUTEBOL
Rafa Benítez sempre pareceu ser um treinador a prazo. O técnico que substituiu Carlo Ancelotti ainda não conseguiu convencer jogadores e adeptos, ainda não soube representar uma promessa de um futuro melhor. Por isso, não são de estranhar as notícias que, desde a pré-temporada, apontam para um reinado curto. A bem da verdade, importa reconhecer que Benítez chegou num contexto particularmente desfavorável: foi, aparentemente, um capricho de Florentino Pérez. Não porque este quisesse desesperadamente o antigo treinador do Nápoles, mas porque queria substituir o bem-amado Carlo Ancelotti. Dos treinadores com maior reputação, Rafa era o único disponível. Calhou-lhe uma fava revestida de oportunidade irrecusável. Rafa Benítez está a caminho de ser apenas mais um dos treinadores que não beneficiaram a sua marca com a passagem pelo mais que desejado Real Madrid. Entretanto, têm-lhe sido atribuídas uma série de culpas (algumas justas, outras nem tanto): a sua condição de elo mais fraco a isso o sujeita. E Benítez não tem sabido dar uma resposta apropriada, seja dentro ou fora das quatro linhas. Escusado será dizer que a perceção da sua liderança está fragilizada.
Mas o verdadeiro rosto do 'annus horribilis' é Florentino Pérez. É o seu projeto que está em causa, é o seu Real Madrid que avança de embaraço em embaraço. E é Florentino quem tem saído a terreiro para justificar as polémicas já quotidianas dos blancos. Mesmo que previsivelmente a contragosto, o presidente do Real Madrid tem sido o rosto da comunicação do clube espanhol. Mas só aparece mediaticamente para responder a problemas.
Mesmo sendo um gigante, a organização Real Madrid não consegue gerir convenientemente a exposição pública do seu principal responsável. O presidente dos blancos anda de fogo em fogo a tentar apagar cada novo foco. Nas duas últimas semanas, Florentino Pérez já foi forçado a convocar duas conferências de imprensa, ambas com pouco sucesso. A primeira por causa da goleada infringida pelo Barcelona em pleno Santiago Bernabéu (0-4). A segunda por causa de Cheryshev. Apesar das explicações dadas, nem Benítez saiu reforçado, nem as notícias sobre o mau ambiente no Real Madrid cessaram, nem a argumentação sobre o uso indevido do jogador russo teve grande aceitação. Mas a imagem de Florentino ficou desgastada e, concomitantemente, a sua liderança.
Com a temporada ainda no seu primeiro terço, o que pode uma organização esperar quando os seus dois responsáveis mais evidentes estão tão fragilizados? O futuro imediato não parece particularmente auspicioso para os lados do Santiago Bernabéu.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.