Há pouco mais de um mês (mais concretamente a 8 de novembro) escrevi que a marca de José Mourinho estava para durar, apesar de o treinador português não estar a ser bem-sucedido na gestão de uma crise também ela comunicacional. Mesmo com a saída do Chelsea, continuo a acreditar que Mourinho é um dos quatro treinadores com uma reputação mais forte e abrangente. Para constatar isto, basta atentar no buzz que a sua saída provocou. O que não significa que não tenha havido danos na marca de um dos técnicos mais titulados do futebol.
Acima de tudo, a principal vítima da péssima temporada que o Chelsea está a fazer é a reputação de Mourinho. Pelos resultados paupérrimos, claro, mas sobretudo pela nuvem de rumores que voltou a acompanhar os últimos momentos do técnico em Stamford Bridge. As notícias que surgiram após a saída de Mourinho (sobretudo a entrevista do diretor-técnico do Chelsea, Michael Emenalo, ao canal do clube) apenas acentuam o desgaste de um dos pontos-chave da marca do Special One: a relação com os jogadores.
Até à entrada de José Mourinho no Real Madrid, todos associavam ao técnico português uma tremenda capacidade de conquistar a lealdade dos seus atletas. Lealdade que se prolongava no tempo, mesmo quando jogadores e treinador já não trabalhavam em conjunto. Atualmente, o campo das relações da marca Mourinho é mais recorrentemente associado a conflitos. A forma como saiu do Chelsea reforçou (e reforçou-se com) a perceção de como saiu do Real Madrid. Falar de Mourinho começa a ser sinónimo de problemas de balneário, o que é francamente grave para a imagem de alguém que já foi apontado como uma referência de liderança e gestão de pessoas.
O L’Équipe da passada sexta-feira, na sua primeira página, colocou o problema nos termos certos: «depois do seu fracasso no Real Madrid em 2013, o Special One esbate um pouco mais a sua imagem de grande treinador».
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Isto só acontece porque não estamos a falar de um ato isolado. Ou seja, há uma sucessão de imagens que começam a cristalizar na reputação. E, para o mal de José Mourinho, essas imagens apontam para um treinador incapaz de gerar e gerir paz. Este facto torna os próximos passos de Mourinho absolutamente decisivos: em pouco mais de três anos, um dos seus pontos fortes transformou-se num ponto fraco. Um ponto fraco de enorme dimensão, ao ponto de estar a ofuscar tudo o resto.
Nos tempos vindouros, Mourinho terá de gerir com pinças a sua comunicação. Por exemplo, a hipótese de o treinador português falar de imediato será tendencialmente mal pensada, tal como falar a muitos meios. Por isso importa haver quem possa fazer spin em seu lugar, dotando cada palavra futura dita pela boca de Mourinho de algo que só a raridade consegue: a solenidade. Quando decidir falar, o mundo do futebol terá de parar.
Este tem de ser o objetivo estratégico da gestão a curto prazo da sua comunicação. Para além disto, a escolha do próximo clube será obviamente importante: falhar por problemas de balneário não pode ser sequer hipótese.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.