Benfica, FC Porto e Sporting conseguiram acordos extraordinários com as operadoras de televisão NOS e MEO. Tão bons que muitos não tardaram em falar de sobrevalorização. Tão bons que têm servido de arma de arremesso entre dirigentes e adeptos de cada uma das organizações. Por isso, já muito se disse sobre os negócios multimilionários dos grandes do futebol português. Mas há dois aspetos igualmente importantes que, ainda assim, têm merecido pouca atenção.
1 - É inegável que a crescente concorrência entre NOS e MEO está a trazer muito dinheiro aos clubes nacionais. Aparentemente, até as formações menores estão a receber verbas mais elevadas pelos direitos de transmissão dos jogos caseiros. E é a dimensão das cifras anunciadas e noticiadas que me leva ao primeiro aspeto que acredito estar a ser menosprezado: ninguém teve a preocupação de comunicar os negócios com o público que vê televisão, ninguém aparece a explicar os eventuais benefícios que os telespetadores de futebol vão obter pela concretização dos acordos entre os clubes e as operadoras de televisão.
As receitas das organizações desportivas estão a aumentar, tal como as despesas da NOS e da MEO. Assim sendo, como é que estas duas empresas vão rentabilizar o investimento? Mais concretamente, à custa de que receitas vão gerar o dinheiro necessário para o investimento no futebol redundar num incremento dos lucros? Os telespetadores do futebol português vão ter de pagar mais para ver um desporto já só disponível através de canais premium? Se sim, de que maneira serão compensados pelo hipotético aumento dos custos de um serviço que atualmente já é caro?
Nem as operadoras nem os clubes parecem muito preocupados com estas questões. Ambos estão mais concentrados nos adversários do que num público crucial para a notoriedade, a reputação e o valor de qualquer uma das organizações em causa. Estão todos tão deslumbrados com os seus feitos que se esquecem que os conteúdos televisivos precisam de ser visionados para serem rentáveis. E quem os pode ver está a ser colocado em segundo plano num momento histórico pelo dinheiro em causa. Tudo isto faz pouco sentido, só podendo ser classificado como comunicação amadora originária de organizações que transacionam milhões entre si.
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2 - Os acordos entre as operadoras de televisão e os clubes representam o fim de qualquer esperança numa centralização dos direitos televisivos a curto e a médio prazo. Ignorando a natureza simbiótica de uma competição desportiva (bastava olhar para Inglaterra, o derradeiro exemplo nestas matérias), cada clube vai negociando sozinho, esperando que o vizinho ou rival não faça um negócio tão bom. Afinal, como poderiam durar os principais dirigentes do futebol português sem o seu pão e circo? O grande derrotado pelo triunfo deste processo é outro dirigente do futebol nacional. Pedro Proença é o líder enfraquecido.
O atual presidente da Liga sempre foi apresentado como alguém altamente competitivo e ambicioso. Estas suas qualidades seriam trunfos suficientes para tornar a Liga Portuguesa de Futebol Profissional novamente relevante. Contudo, isto não tem acontecido. Pedro Proença tem estado confinado a um papel insustentavelmente secundário na definição do futuro do futebol português.
A falta de relevância que assumiu na celebração de acordos entre televisões e clubes é apenas um exemplo demasiadamente flagrante de uma liderança até agora insípida. Falta saber se pode ainda alterar esta situação e sobreviver ao seu atual estatuto de personagem mínima do desporto-rei nacional.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.