A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou hoje a intenção de criar uma liga feminina a partir da época 2016/17, com a participação de quatro equipas de clubes da I Liga masculina e com transmissões televisivas.
"Este mês não deixaremos de convidar todos os clubes da I Liga e de dar a oportunidade a quatro de participar", revelou o presidente da FPF, Fernando Gomes, acrescentando que na próxima reunião de direção serão discutidos os critérios a aplicar na seleção dos candidatos, sem esquecer "a proteção dos clubes que têm sido os alicerces do futebol feminino".
O projeto, dado a conhecer na sede da FPF, em Lisboa, prevê uma prova com 14 equipas, incluindo aquelas quatro, oito das que atualmente disputam o campeonato nacional e mais duas provenientes do campeonato de promoção, sendo que, neste momento, há três clubes que coincidem na I Liga e no campeonato feminino - Boavista, Belenenses e Estoril-Praia.
Sublinhando que em contactos informais tem notado recetividade dos clubes, a diretora da FPF para o futebol feminino, Mónica Jorge, manifestou o objetivo de "criar uma liga forte e mais competitiva para evitar que algumas jogadores tenham de ir para o estrangeiro" e para que se sintam atraídas a jogar em Portugal.
Para ilustrar a importância da participação de clubes da I Liga, Fernando Gomes deu o exemplo de Inglaterra e França, "dois países que cresceram muito", com "processos semelhantes a este, de aproximação aos clubes 'grandes'", enquanto Mónica Jorge anunciou que se pretende também que sejam transmitidos pela televisão 10 jogos por época, embora não haja ainda um parceiro definido.
Ao mesmo tempo, foi apresentada uma parceria de três anos com a seguradora Allianz, que, para Fernando Gomes, vai ajudar a criar condições para que o futebol feminino atinja um patamar mais elevado, com mais e melhores praticantes e uma base de recrutamento mais alargada.
A este propósito, Mónica Jorge fez um balanço e traçou perspetivas do plano estratégico para o futebol feminino, realçando a realização da primeira edição da Supertaça, o nascimento do campeonato nacional de juniores, a criação das seleções de sub-16 e sub-17, bem como de centros de treino onde podem ser observadas jogadoras referenciadas pela equipa técnica nacional e a realização de torneios regionais e nacionais, que potenciam a competição nos escalões etários mais baixos.
Como objetivos deste plano até 2020, apontou a duplicação de praticantes e a elevação de Portugal aos primeiros 25 lugares do 'ranking' da FIFA, tabela em que ocupa atualmente o 40.º lugar. A nível europeu, a seleção portuguesa é a 23.ª posicionada.
Em 2015, incluindo futsal e futebol de praia, estavam federadas 5.906 jogadoras, o que representa apenas 3,66% do universo de atletas registados em Portugal, embora tenha havido uma evolução face ao ano anterior, com destaque para o crescimento nas associações de Porto (mais 140), Braga (47) e Lisboa (38).
Olhando apenas para o futebol, as jogadoras federadas são 2.116, um número muito distante das 258.000 da Alemanha, líder a nível europeu, e 12 vezes inferior ao da Finlândia (26.000).
"A taxa de participação feminina é baixa, comparada com outros países. Este é o grande desafio que temos pela frente", afirmou o líder da FPF, organismo que congrega 30 por cento dos atletas federados em Portugal em todas as modalidades.
Mónica Jorge manifestou-se confiante no crescimento destes números. "No ano da criação da seleção de sub-17, qualificámo-nos para a fase final do Europeu. Apesar do pouco que temos, qualidade existe. Não é preciso chegar aos 258.000 da Alemanha para entrar no 'top-10' da Europa", afirmou a ex-selecionadora portuguesa.