Há dois anos, também no mês de março, Paulo Fonseca deixava de ser o treinador do FC Porto. O técnico português abandonou o Dragão sem glória, apesar da conquista da Supertaça, e com a reputação arrasada. Quem ainda hoje não se recorda das gaffes geográficas provocadas pelo embate europeu frente ao Eintracht Frankfurt?
Dois anos depois, o momento vivido por Paulo Fonseca é substancialmente diferente. O agora treinador do SC Braga fez uma gestão de crise muito bem-sucedida. Quando todos estavam à espera que fosse fazer a reabilitação da sua imagem para o estrangeiro, longe do público que não perdia uma oportunidade para o ridicularizar, o treinador português fez uma aposta bem mais arriscada, resolvendo voltar para o Paços de Ferreira.
É um lugar-comum dizer-se que não se deve voltar onde já fomos felizes. Esta simplificação terá um fundo de verdade, sobretudo se a felicidade for sinónimo de sucesso. Porque o sucesso acarreta expectativas. Ora, Paulo Fonseca, ao invés de aventurar-se num qualquer campeonato anónimo e longe dos holofotes nacionais, preferiu regressar a um clube modesto. Mas a um clube modesto onde fez história.
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Depois de conquistar um terceiro lugar ao serviço do Paços de Ferreira, ainda por cima com bom futebol, seria praticamente impossível fazer melhor. E foi: na segunda vida de Paulo Fonseca na Capital do Móvel, os auriverdes não foram além do oitavo lugar. Contudo, reduzir o futebol a um conjunto de dados quantitativos é absolutamente enganador. Nenhum adepto do Paços terá ficado desapontado com o comportamento da equipa na época 2014-2015. Isto porque os castores voltaram a jogar futebol a sério sob a batuta de Paulo Fonseca, depois de terem lutado desesperadamente para não descer de divisão na época transata. Umas vezes ganharam, outras perderam ou empataram, mas o segundo Paços de Ferreira de Paulo Fonseca voltou a ser uma equipa com ideias. Uma equipa com dedo do treinador, que mostrou que o seu primeiro ano não tinha sido um acidente.
No Sporting de Braga as coisas continuam a correr bem. A temporada está no último terço e os arsenalistas estão ainda em todas as competições. Há já uma final assegurada e uma carreira honrosa nas competições nacionais e europeias. E há um denominador comum entre a atual equipa de Paulo Fonseca e o seu Paços: o bom futebol, daquele que tem ideias para todos os momentos do jogo, conjugando-as com resultados. Isto começa a ser a sua marca, precisamente aquilo que não esteve presente aquando do seu reinado no Dragão.
O grande mérito de Paulo Fonseca é tão simplesmente ter ideias. Ideias consistentes aplicadas recorrentemente. Por isso as imagens que vai gerando são cada vez mais positivas. Por isso a sua reputação é hoje particularmente elevada. Por isso já se pode falar de um treinador com marca. Por isso o fracasso no FC Porto parece ter sido há muito tempo (os falhanços de Lopetegui ajudaram a atenuar a má imagem deixada, importa reconhecer).
Depois de uma crise considerável, Paulo Fonseca conhece novamente o sucesso e as boas graças do público. Ter arriscado permanecer em Portugal compensou largamente. Como o seu futebol tem substância, o seu jogar enquanto forma de comunicação também a tem. Paulo Fonseca respondeu a uma crise reputacional com ideias de e para o futuro. Como qualquer marca deve fazer.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.