É inegável. Anteontem, o mundo do futebol ficou mais pobre com a morte de Johan Cruyff. Aos 68 anos, aquele que foi um dos melhores jogadores de sempre da história do futebol deixou-nos vítima de cancro. Cruyff foi muito mais do que um jogador de futebol. O legado dele vai para além das jogadas de qualidade e da técnica apuradíssima. O holandês voador conseguiu também o que poucos alcançaram: ser um magnífico jogador, mas também um treinador que revolucionou o mundo do futebol.
1- O JOGADOR
Falar de Johan Cruyff é relembrar, numa primeira instância, o enorme jogador que foi. O holandês foi um dos melhores jogadores da sua geração e, a par de outros grandes nomes, como Pelé, Eusébio, Di Stefano, Platini, Zidane, e tantos outros, marcou uma era.
Infelizmente não vi jogar Cruyff, sou novo demais para ter tido este privilégio, mas, como muitos, assisti a inúmeros vídeos das suas jogadas e sobre a sua vida na Internet, que me ajudaram a perceber a importância do holandês. Cruyff estará para sempre ligado à história do futebol mundial, mas, mais particularmente, à história do futebol holandês. Foi com a seleção laranja e com o Ajax que Cruyff fez história.
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Prova disso é o ano de 1974, quando Cruyff conseguiu levar a ‘laranja mecânica’ à final do Mundial, tendo perdido o título frente à Alemanha de Beckenbauer. É aqui que reside a grandeza de Cruyff, já que todos se lembram mais do finalista vencido do que da seleção vencedora, um raro feito e que não está ao alcance de todos. A Holanda de 1974 é, ainda hoje, considerada uma das melhores seleções da história do futebol, mesmo não tendo vencido qualquer troféu.
Também no Ajax, Cruyff revolucionou uma equipa que se tornou o centro do mundo nos primeiros anos da década de 70. Com o Ajax, o craque viria a conquistar a Europa do futebol, prestações que lhe permitiram sair para o Barcelona, clube com o qual viria a ganhar mais alguns títulos e onde acabaria por demonstrar toda a sua inteligência enquanto treinador.
2- O TREINADOR
É comum dizer-se que as grandes estrelas do futebol mundial muito raramente resultam em grandes treinadores. O holandês veio demonstrar que tal premissa não é verdadeira. Pode considerar-se que o grande legado de Cruyff é construído enquanto treinador.
Foi no Barcelona que Cruyff revolucionou por completo os cânones do futebol mundial. Muito do que vemos hoje ainda na equipa catalã é dedo do holandês. A pressão asfixiante sobre o adversário, a constante posse de bola e a procura quase doentia pelos espaços são marcas do futebol que o Barcelona de Cruyff praticava e que Guardiola soube depois potenciar como ninguém.
As bases do futebol catalão são obra de Johan Cruyff, adepto de um futebol ofensivo sempre na procura do ataque, independentemente do adversário e das dificuldades encontradas em campo. Cruyff não traía os seus princípios por nada e mesmo depois de retirado dos bancos não se fazia rogado em criticar o futebol mais cauteloso praticado por alguns treinadores. Basta lembrar as várias polémicas com Mourinho, que Cruyff acusava de ser demasiado resultadista e de querer ganhar a todo o custo. Para Cruyff, não bastava vencer, era também preciso ter prazer em jogar.
3- O CIDADÃO
Fora dos relvados Cruyff, não deixava de se envolver em causas que lhe eram importantes. Criou a ‘Fundação Johan Cruyff’ com a qual ajudou, um pouco por todo o mundo, milhares de crianças pobres ou com deficiência. Ainda enquanto jogador, Cruyff entrou muitas vezes em confronto com a Federação Holandesa, que o acusava de pouco se importar com os interesses do país. O craque também não deixou de lutar por melhores direitos para os jogadores holandeses durante a sua carreira. Cruyff era uma pessoa com forte personalidade, que dificilmente se deixava vergar ou corromper nos seus ideais.
Johan Cruyff fica por tudo isto recordado como um dos grandes jogadores da história do futebol mundial. Uma marca forte de uma pessoa com ideias próprias e fiel a si mesma. Figuras como Cruyff fazem falta ao futebol numa altura onde tudo parece estar demasiado formatado e onde o politicamente correto prevalece com demasiada frequência. Quer se goste ou não de Cruyff, certo é que o holandês nunca deixou ninguém indiferente e tal facto só está ao alcance dos campeões. Para se fazer parte da história é preciso entender o mundo que nos rodeia e fazer com que as pessoas com as quais nos envolvemos possam perceber as nossas ideias e aquilo que pretendemos alcançar.
Cruyff disse uma vez numa entrevista: «É preciso saber combinar resultados e qualidade. Conseguir resultados sem qualidade é aborrecido, mas conseguir qualidade sem resultados não tem significado». Um equilíbrio nem sempre fácil de alcançar.
Obrigado Johan Cruyff e descansa em paz!
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.