O jogador Bruno Santos, do Paços de Ferreira, reconheceu hoje que "a família foi sempre presente" e "fundamental" para resistir às tentações da favela Barbantes, no Rio de Janeiro, no Brasil, onde nasceu e viveu durante 13 anos.
"Os meus pais sempre me disseram que me cabia a mim escolher um de dois caminhos, o bom e o mau, e, como filho obediente que sempre fui, hoje posso dizer que não há nada melhor do que ouvirmos os nossos pais dizerem que somos o seu orgulho", disse Bruno Santos à agência Lusa.
O defesa brasileiro, de 23 anos, falou sem complexos dos seus primeiros anos de vida e chegou mesmo a dizer que "um dos lados bons de se viver numa favela", como a Barbantes, em que nasceu e cresceu, "é ver de perto as coisas boas e muito más e perceber que o lado ‘ruim' não é o caminho".
"Vi e vivi muita coisa lá, desde bandidos, a droga e tiros, que nos faziam deitar no chão, receando balas perdidas. Tive amigos que se ‘perderam' ou morreram, mas, felizmente, coloquei na cabeça que só eu posso mudar a minha história e a história da minha família", acrescentou.
Reconhecido aos pais, pela "presença constante e bons conselhos", Bruno recordou que a paixão pelo futebol apenas se efetivou mais tarde, numa fase em que já tinha abdicado da bola para ajudar a família, que entretanto viria a mudar-se para um bairro na zona oeste da cidade.
"Nunca passei fome, mas vivi dificuldades e cheguei a abrir mão do futebol para ajudar. Trabalhei bastante e, numa altura em que estava num armazém de móveis, um rapaz procurou-me em casa para dizer que ia haver captações e que devia de ir. O meu pai, que o recebeu, só lhe disse que, se fosse para jogar ‘pelada', por brincadeira, não ia", recordou.
Bruno acabou mesmo por ir e passar nos testes no Mesquita, clube do Rio de Janeiro, onde viria a jogar. As boas exibições, coroadas com três golos, valeram-lhe um convite para ir ao México.
"Não tinha despesas e nada a perder. Treinei nos Lobos de Buap, mas não correu bem, e também não fiquei no América porque era júnior e, nessa idade, a política do clube só permite a utilização de jogadores mexicanos", contou.
Foi, então, que surgiu a oportunidade de realizar o sonho de jogar na Europa, a partir de Portugal. Representou o Sourense e o Freamunde, antes de ingressar no Paços de Ferreira.
"Realizei o sonho de jogar na Europa, estou feliz com o que já consegui, mas não acomodado", confessou, sem deixar de enaltecer o trabalho dedicado do empresário Marcelo Silva e o próprio Paços de Ferreira, por ter mantido a confiança e o ter contratado após a grave lesão no joelho sofrida no Freamunde.
"A minha mãe chora muito. Sou o filho ‘caçula’ e temos uma ligação forte. Só me veem pela televisão e é sempre uma choradeira. Essa é a parte mais difícil, mas, se queres vencer, tens de meter na cabeça que tem de ser e focares-te naquilo que fazes, para o fazeres bem", afirmou.
Bruno Santos está bem focado no que quer e confessou sem problemas que "a ideia é chegar ao ‘top'", elegendo Espanha e, em especial, Inglaterra, por o campeonato ser mais de acordo com as suas características de choque e agressividade, como os destinos de eleição, com um objetivo claro.
"Não quero ter muito dinheiro, apenas o suficiente para viver bem e poder ajudar. A minha família vive hoje num bairro bom, mas numa casa alugada, e quero muito dar uma boa casa aos meus pais e à minha irmã", revelou, sem excluir a possibilidade de se radicar em Portugal e, nesse caso, pretende trazer a família para junto de si.