O título deste texto é inspirado no muito interessante Eating the Big Fish, de Adam Morgan. Porquê? Porque, na comunicação e marketing, os peixes grandes, quando lideram confortavelmente, garantem benefícios que vão muito além da sua posição. Por exemplo, há marcas líderes que chegam a capturar um segmento. Quantos de nós, no café, pedem um Compal quando querem um qualquer néctar, transformando uma marca na própria categoria de produto?
Quem vai atrás sente, portanto, contrariedades exponenciais. Veja-se a dificuldade que há em destronar Barcelona e Real Madrid entre os clubes com maior notoriedade ou ainda a vantagem crescente da Premier League inglesa face aos outros campeonatos europeus de topo.
Quem vai atrás tem de trabalhar muito e bem, procurando distinguir-se e reforçar a sua identidade a cada passo. Contudo, no futebol português existe um fenómeno interessante: quem vai atrás parece fazer questão de comunicar em função dos líderes, dando-lhes notoriedade e abdicando demasiadas vezes de construir um caminho próprio. É este o complexo dos peixes pequenos, é existir com os 'peixes grandes' como referência.
Ponto prévio: a conclusão da frase anterior aplica-se a qualquer um dos chamados 'três grandes': os dois que surgem depois do sobrante na tabela classificativa comportam-se sempre do mesmo modo, variando apenas em intensidade. Como atualmente é o Benfica que lidera, Sporting e FC Porto são os exemplos atuais de clubes com o complexo dos peixes pequenos. Se o líder fosse outro – como foi em outras ocasiões – os bicampeões nacionais não evitariam este pecado muito próprio da nossa realidade futebolística.
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Na passada sexta-feira, o Benfica recebeu e venceu o Sporting de Braga. O jogo foi bom e teve meia dúzia de golos, cinco deles para os encarnados. A arbitragem de Nuno Almeida esteve à altura das circunstâncias: teve erros, mas nada que manchasse o bom espetáculo a que se assistiu. Ora, o golo do Sporting de Braga foi conseguido através de uma grande-penalidade, a primeira assinalada contra o Benfica na presente temporada.
Os rivais do atual líder do campeonato não tardaram em comentar o sucedido. E fizeram-no, inacreditavelmente, por canais oficiais! O Sporting, através da sua conta no Twitter, fez questão de chamar a atenção para o primeiro penálti marcado contra o Benfica, falando em «vergonha sem limites». No dia seguinte, o cada vez mais descartável Dragões Diário gastou algumas linhas a associar o fim do ciclo sem grandes penalidades do Benfica ao dia em que este chegou ao seu término: 1 de abril , dia das mentiras. O problema? A grande-penalidade foi bem assinalada.
Não está em causa a possibilidade de comentar o momento: seja por estratégia ou convicção, não seria chocante ver os responsáveis de Sporting e FC Porto referirem-se ao facto. Mas sempre mediados pela comunicação social, sem grandes solenidades ou centralidades. Nunca pelos meios oficiais. Usar estes últimos para protestar contra uma grande-penalidade bem assinalada, ainda por cima ocorrida num jogo que foi uma grande manifestação de força do Benfica, soa a desespero. Sporting e FC Porto apenas pareceram reconhecer alguma impotência. O contexto era péssimo para passar a mensagem pretendida (vitória categórica frente ao Sporting de Braga, o merecidamente elogiado quarto classificado) e os meios escolhidos como que enalteceram o feito dos encarnados.
Centrar a comunicação nos rivais quando se está atrás é dar ainda maior destaque ao 'peixe grande'. Em sentido contrário, os meios próprios das organizações devem servir essencialmente para comunicar a marca e a sua unicidade. Nunca para relembrar aos nossos públicos que os rivais acabaram de conseguir uma grande vitória, ainda por cima destacando uma boa decisão da equipa de arbitragem.
Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.
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