O francês Michel Platini, anunciado como o sucessor natural do suíço Joseph Blatter na liderança da FIFA, não resistiu ao escândalo de corrupção que abalou o organismo regulador do futebol mundial, anunciando hoje a demissão da presidência da UEFA.
A decisão de Platini foi anunciada pelos advogados do ex-futebolista internacional francês, pouco tempo depois de o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) ter reduzido de seis para quatro anos a suspensão imposta ao presidente do organismo de cúpula do futebol europeu, cargo que ocupa desde 2007.
O dirigente francês, que chegou a candidatar-se à presidência da FIFA nas eleições realizadas este ano e que resultaram na vitória do ítalo-suíço Gianni Infantino, vai demitir-se da presidência da UEFA no próximo congresso, para “prosseguir o combate nos tribunais suíços”.
A suspensão definitiva de Platini, de 60 anos, encerra o último capítulo de um ‘annus horribilis’ para o líder da UEFA, tendo o ‘prólogo’ começado a ser escrito a 27 de maio de 2015, com a detenção de vários altos responsáveis da FIFA em Zurique, a pedido da justiça norte-americana.
Nesta fase, a sua reputação ainda não tinha sido afetada e Platini pediu mesmo a Blatter que não se recandidatasse à presidência da FIFA nas eleições de 29 de maio de 2015, o que o suíço rejeitou, tendo sido eleito para um quinto mandato consecutivo, apenas para anunciar a demissão quatro dias mais tarde.
A 29 de julho, Platini assumiu a candidatura à liderança do organismo que rege o futebol mundial, marcadas para 26 de fevereiro de 2016, mas sofreu o primeiro revés menos de dois meses depois, a 25 de setembro, quando o Ministério Público suíço instaurou um processo criminal a Blatter.
Platini foi ouvido na qualidade de testemunha, mas acabou implicado no processo, pelo recebimento em 2011 de um pagamento por um trabalho de aconselhamento feito para Blatter em 2002, feito “em prejuízo da FIFA”, no valor de dois milhões de francos suíços (perto de 1,8 milhões de euros).
Tal como o suíço, o líder da UEFA foi suspenso provisoriamente por 90 dias a 08 de outubro e a sua candidatura à presidência da FIFA ‘congelada’ até à conclusão do processo, no qual a câmara de instrução do organismo mundial pedia como pena a irradiação do futebol.
Ainda antes do fim ano, a 21 de dezembro, Platini foi condenado pela Comissão de Ética da FIFA a oito anos de suspensão de toda a atividade ligada ao futebol, por abuso de confiança, conflito de interesses e gestão danosa no caso do pagamento feito por Blatter, suspenso pelo mesmo período.
A pena de Platini, um dos melhores futebolistas franceses de sempre, foi depois reduzida para seis anos pela Comissão de Recurso da FIFA, antes de o TAS a limitar hoje a quatro anos, reconhecendo a “validade” do acordo verbal com Blatter, mas não se manifestando “convencido da sua legitimidade”.