Pela segunda vez na história, o Campeonato da Europa de atletismo realiza-se em ano de Jogos Olímpicos, sensivelmente com um mês de antecedência, e, tal como há quatro anos, Portugal tem boas perspetivas de conseguir medalhas.
Em 2012, em Helsínquia, foram numerosas as ausências de primeiros planos, que se reservaram para os Jogos de Pequim - este ano, em Amesterdão, a partir de quarta-feira, a 'abstenção' parece menor, facto para o qual contribui a ausência dos 'banidos' atletas russos, os grandes 'faltosos' em 2012.
Portugal foi então um dos países que aproveitou bem essas ausências, regressando com três medalhas: ouro por Dulce Félix nos 10.000 metros, prata por Patrícia Mamona no triplo, bronze por Sara Moreira nos 5.000 metros.
Dois anos depois, em Zurique, sem a 'sombra' dos Jogos Olímpicos, o nível subiu muito e apenas Jéssica Augusto logrou chegar a uma medalha (de bronze) na maratona.
Há 10 edições do Europeu – desde Atenas'82 – que Portugal não falha a ida ao pódio. Em 1982 e 1986, através de Rosa Mota, campeã na maratona. A partir de 1990 com outros nomes na berlinda e em Budapeste’98 foram nada menos de seis as medalhas conquistadas por Portugal.
É razoável admitir que venha ser conquistada em Amesterdão a 30.ª medalha portuguesa na competição - são 29 até ao momento - e mesmo mais do que isso.
A primeira candidata é Sara Moreira, logo na primeira final do Europeu, a dos 10.000 metros, a única de quarta-feira, o primeiro dia da competição. Ela parte com o melhor tempo do período de qualificação (2015 e 2016) – 31.12,93 minutos -, embora tenha na turca Yasemin Can, uma ex-queniana de nome Vivian Jemutai naturalizada em maio de 2015, uma difícil adversária (31.30,58 esta época). Dulce Félix, que irá tentar reconquistar o seu título de 2012, é outra candidata ao pódio.
As duas fundistas lusas (e ainda Jéssica Augusto) voltam a candidatar-se a lugares de destaque no último dia da competição, na meia-maratona, prova que faz a sua estreia em Europeus, 'substituindo' a maratona, que continua a se realizar de quatro em quatro anos, nos anos não olímpicos.
Em 2012, aquando da primeira edição do Europeu em ano olímpico, ficaram fora do programa a maratona (agora substituída pela 'meia') e a marcha (que continua de fora).
A meia-maratona tem um estatuto especial, já que admite mais do que os habituais três atletas por país - podem participar seis - e integra a Taça da Europa, competição de natureza coletiva, para a qual contam os três melhores atletas de cada país.
Portugal tem nesta competição uma boa possibilidade de juntar uma medalha extra Europeu, já que conta na sua seleção feminina atletas de elite como Sara Moreira, Dulce Félix e Jéssica Augusto. Vanessa Fernandes e Marisa Barros completam a equipa, ainda a muito bom nível.
No setor masculino, as possibilidades portuguesas são bem mais reduzidas, sendo interessante verificar o estado de forma de Rui Pedro Silva, pré-selecionado para a maratona olímpica, e Rui Pinto, que não têm competido, na sequência de lesões no último inverno.
Além do meio-fundo longo feminino, é no triplo que se concentram as esperanças nacionais. Nelson Évora será a principal figura masculina da seleção e o nome forte da prova, graças aos 17,52 que conseguiu no Mundial de Pequim’2015 e que lhe valeram a medalha de bronze.
Este ano, o campeão olímpico de Pequim2008 ainda não regressou ao patamar dos 17 metros, que certamente será necessário para estar na luta pelas medalhas. O benfiquista costuma estar ao melhor nível nas grandes competições, mas este ano parece mesmo menos forte do que em 2015.
Nesta prova, não se esperam grande marcas por parte dos seus adversários, se bem que estejam presentes mais sete atletas que passaram os 17 metros entre 2015 e 2016.
No triplo feminino, Portugal também parte com aspirações. Há quatro anos, Patrícia Mamona conseguiu a sua melhor marca de sempre (14,52) e foi medalha de prata. Este ano, ela e Susana Costa têm 17,32 e são as oitavas da lista de participantes, que inclui todas as melhores europeias de momento, russas excluídas.
Ainda em posições de destaque – e com legítimas aspirações a lugares de finalista (oito primeiros) – estarão a discóbola Irina Rodrigues, bastante regular ultimamente acima dos 60 metros (63,96 como melhor), a quatrocentista Cátia Azevedo, que bateu recentemente o recorde nacional com surpreendentes 51,63, e ainda Marta Pen, que acaba de melhorar substancialmente o seu recorde pessoal dos 1.500 metros, com 4.06,54, marca que a coloca como quarta do ano entre as inscritas.
Há quatro anos, sem meia-maratona nem marcha, Portugal conseguiu nove lugares de finalista e há dois anos, com o programa completo, obteve dez, uma das quais (Ana Cabecinha) na marcha. Serão essas as referências globais para a participação lusa.