A Inglaterra ameaça voltar a dominar o futebol europeu, ao colocar três clubes nas meias-finais da Liga dos Campeões, mais de duas décadas após a tragédia de Heysel, que afastou os seus clubes durante cinco anos.
Os apuramentos do Chelsea, de José Mourinho, do Manchester United, de Cristiano Ronaldo, e do Liverpool recolocaram a Inglaterra no topo da Europa: está garantida pelo menos uma presença na final e igualados os feitos de Espanha (1999/2000) e Itália (2002/2003) de colocarem três clubes nas ''meias'' da ''Champions''.
Em aberto está uma final, com um toque português, entre Manchester United e Chelsea, equipas que esta temporada têm dominado o futebol em terras de ''sua majestade'', com a disputa do título da Liga inglesa e um possível embate no jogo decisivo na histórica ''FA Cup'' (estão igualmente nas meias-finais da prova).
O investimento estrangeiro, por parte de milionários da Rússia e dos Estados Unidos, e uma aposta forte na contratação das maiores estrelas da actualidade, tanto jogadores como treinadores, colocaram o futebol inglês de novo na ribalta, 22 anos depois de um incidente que mudou, em certa medida, a modalidade.
Depois de regressarem às competições europeias, em 1991/92, os clubes ingleses apenas chegaram às meias-finais da Liga milionária em 1996/97 e tiveram o seu primeiro grande sucesso da ''era moderna'' em 1998/99, com o título do Manchester United, mas as últimas três épocas foram de verdadeira afirmação do seu poder.
O Chelsea foi semi-finalista em 2003/2004 e 2004/2005 - primeiro numa edição ganha por um FC Porto orientado por Mourinho -, o Liverpool chegou ao quinto título de campeão europeu em 2004/2005 e o Arsenal foi finalista derrotado na época passada, pelo FC Barcelona.
Em 29 de Maio de 1985, no Estádio de Heysel (demolido 10 anos depois), em Bruxelas, 39 pessoas morreram esmagadas junto às vedações do recinto e 600 ficaram feridas, devido ao comportamento dos adeptos do Liverpool, na final da Taça dos Campeões com a Juventus, de Itália.
No denominado ''episódio mais negro da história da UEFA'', a maior parte (32) dos adeptos que perderam a vida eram apoiantes da ''Juve'' e não assistiram à vitória da sua equipa, graças a um penalti ''fantasma'' apontado pelo francês Michel Platini, actualmente presidente do organismo que rege o futebol europeu.
O incidente, que chocou a Europa, chegou aos quatro cantos do Mundo e teve como resultado um afastamento de 10 anos de todas competições europeias para o Liverpool e de cinco para o restantes clubes ingleses, numa medida que teve a concordância e apoio da ''dama- de-ferro'' Margareth Thatcher, na altura primeira-ministra britânica.
Os clubes ingleses dominavam então a Europa do futebol, com seis vitórias consecutivas na Taça dos Campeões, entre 1976/77 e 81/82 (Liverpool, três, Nottingham Forest, duas, e Aston Villa), e na tarde fatídica de Heysel os ''reds'' tentavam revalidar o título pelo segundo ano seguido, procurando o quinto da sua história.
Após cinco anos sem saírem das ilhas britânicas, em 1990/91 os emblemas ingleses, excluindo o Liverpool, foram autorizados a competir apenas na Taça das Taças, após uma reunião do comité executivo da UEFA no Castelo de Palmela, e regressaram em força com o Manchester United a vencer a prova, ao bater na final o FC Barcelona por 2-1.
Apesar de conseguirem algum sucesso na Taça das Taças, com novo triunfo do Arsenal em 1993/94 (1-0 na final frente ao Parma), as equipas inglesas demoraram mais de cinco anos a alcançarem os lugares cimeiros da Liga dos Campeões, com o Manchester United a ser o primeiro a ir mais longe, quando chegou às ''meias'' em 1996/97.
Para isso, os ''red devils'' derrotaram nos quartos-de-final o FC Porto, liderado por António Oliveira, com um empate 0-0 no antigo Estádio das Antas, depois de uma goleada por 4-0 em Old Trafford.
Cinco anos antes, em 1991/92, o Benfica ajudou à falta de sorte dos clubes ingleses na estreia na ''Champions'', com uma vitória histórica em Highbury Park por 3-1, após prolongamento (com dois golos de Isaías e um de Kulkov), a qual afastou os ''gunners'' da fase de grupos, que na altura dava acesso à final da competição.
Com o Liverpool - que acabou por regressar após seis anos da suspensão - sem lograr reviver os feitos do passado, o Manchester United tornou-se a equipa inglesa mais forte fora de portas e ganhou a Liga dos Campeões em 1998/99, 15 anos depois de Heysel, após vencer o Bayern de Munique por 2-1, numa das finais mais dramáticas da prova.
Comandados pelo francês Gérard Houllier, os ''reds'' voltaram a levantar uma Taça dos Campeões em 2005, passados exactamente 20 anos, quando derrotaram na final o AC Milan por 3-2, no desempate por pontapés da marca da grande penalidade, depois de nos 90 minutos terem recuperado, de forma heróica, de uma desvantagem de três golos.
Curiosamente, nessa edição, o Liverpool eliminou a Juventus, nos quartos-de-final, numa eliminatória que fez recuperar as memórias de Heysel e foi transformada numa homenagem às vítimas da tragédia.
Na época transacta, o Arsenal, do gaulês Arsene Wenger, esteve também perto de conquistar o troféu, mas, depois de ter inaugurado o marcador na final, acabou por cair frente ao FC Barcelona (2-1), clube que já está fora da corrida ao ''bis'', por culpa do Liverpool.
LUSA