O antigo árbitro internacional português Duarte Gomes considerou que o International Board “percebeu que estamos no século XXI”, apesar de considerar que algumas alterações às leis do futebol propostas pelo organismo regulador são “demasiado arrojadas”.
“O que o International Board percebeu é que estamos no século XXI e o mundo deu um salto nos últimos 20 anos [...] muito grande e a arbitragem tinha de o acompanhar. Finalmente, estão a ser arrojados, eventualmente, demasiado arrojados”, observou Duarte Gomes à agência Lusa.
O ex-árbitro defendeu que a recente ‘chuva’ de propostas às leis do jogo feitas pelo International Football Association Board (IFAB) constitui “um salto bem-intencionado, mas que é do oito para o 80”, remetendo para um debate a longo prazo antes da sua aplicação.
“Há medidas que fazem muito sentido e que estão agora a ser aplicadas e testadas, nomeadamente, a do vídeo-árbitro. Há outras que me parecem pertinentes, mas sujeitas a estudo, e há outras completamente descabidas”, sustentou.
A alteração mais radical passa pela possibilidade de reduzir o tempo de jogo de 90 minutos para 60 úteis, com paragens do cronómetro sempre que existirem interrupções ou, em alternativa, manter o atual figurino, mas adotar aquele método nos últimos cinco minutos da primeira parte e 10 da segunda.
“Tenho a certeza que a médio e longo prazo esta é uma questão que irá ser implementada no futebol. Numa primeira instância parece-me mais lógica essa questão dos cinco [minutos] até para efeitos de teste. Se isso funcionar por que não aplicar a outra?”, questionou.
Para Duarte Gomes a questão do tempo útil de jogo “é um flagelo antidesportivo”: “É uma batota. Não é suposto um profissional usar isto como estratégia para vencer, usando o argumento que é inferior e tem de usar tudo ao seu dispor”, assinalou.
Outra alteração proposta pelo órgão composto por representantes da FIFA e das quatros federações britânicas passa pela atribuição de golo sempre que a bola for desviada indevidamente com a mão sobre a linha de baliza, em vez de grande penalidade, como acontece atualmente.
“Validar um golo de uma bola que não ultrapassou a linha de baliza [...] e dizer que é um golo choca-me. É estarmos a atribuir uma situação que de facto não aconteceu”, contestou o ex-árbitro, sugerindo uma qualquer punição alternativa, como marcar grande penalidade sem a presença do guarda-redes.
O organismo coloca ainda a hipótese de deixarem de ser permitidas recargas após a marcação de grandes penalidades, ordenando a paragem imediata do jogo, e de autorizar que os jogadores possam passar a bola a si próprios na marcação de pontapés de canto ou de livre.
Penalizar com a marcação de grande penalidade o guarda-redes que toque com a mão uma bola após um passe deliberado de um colega de equipa ou um lançamento lateral e expulsar diretamente um jogador que marque um golo com a mão de forma deliberada também estão entre as propostas do IFAB.
“Tudo isto é para tornar o jogo mais célere, como já se percebeu, para ter mais golos e menos perdas de tempo. E também penalizar a batota pura, porque se está a enganar o árbitro, o adversário, os próprios colegas de equipa, os treinadores e público”, explicou.