O escritor italiano Pippo Russo, autor do livro 'A Orgia do Poder', sobre a ascensão de Jorge Mendes no futebol, considera que a influência do empresário está em queda com as notícias de alegada evasão fiscal em Espanha.
Professor de Sociologia do Desporto na Universidade de Florença, este especialista - que se tem dedicado ao estudo do fenómeno da economia paralela no futebol global - revela, em entrevista à agência Lusa, que as investigações em curso pelas autoridades espanholas marcam um "momento de viragem" no poder do agente português.
"O império de Jorge Mendes está a entrar em declínio. Talvez esteja errado, mas os danos na imagem são já um facto. Se este rombo na imagem pode ser decisivo na queda de Jorge Mendes, não sei, mas vivemos um tempo em que ele, pela primeira vez, está em reais dificuldades", declara.
Sem deixar de analisar Jorge Mendes como "o estado mais alto da evolução desta economia paralela" no futebol, Pippo Russo explica que a 'A Orgia do Poder', editado este mês pela editora Planeta, não é mais do que a "contra-história" da carreira do agente, ao colocar ao longo de mais de 400 páginas os "elementos da narrativa" dominante sob uma luz diferente.
"O futebol global e a sua economia têm sido uma grande área cinzenta. Este é o momento de viragem, em que podemos agarrar a transparência no futebol. Não só com Jorge Mendes e os seus clientes, mas em geral. Estas diligências podem ser o ponto de viragem para alcançarmos a transparência no futebol. E isto é bom para todos", frisa.
As recentes suspeitas das autoridades tributárias de Espanha sobre eventuais delitos fiscais de Cristiano Ronaldo, José Mourinho ou Radamel Falcao, todos representados pelo empresário português, são a expressão de que "não existem coincidências". Porém, o investigador italiano defende a presunção de inocência de todos, incluindo Jorge Mendes, que admite nem conhecer.
"Acredito que uma pessoa não é culpada até ser definitivamente provada a sua culpa, por isso, neste momento, para mim, José Mourinho, Ronaldo, Falcao ou Jorge Mendes não são culpados, pois isso ainda tem de ser demonstrado", disse.
Nesta sua obra, o escritor transalpino expõe o que considera também ser uma construção de mito em torno do empresário português, que torna a imprensa portuguesa complacente em relação às notícias de eventuais irregularidades. Na raiz desta atitude, no seu entender, está uma tendência de 'protecionismo' às maiores figuras da sociedade portuguesa.
"Portugal é um país pequeno com grandes génios. É a história que o diz. Nestas condições, é normal que um grande campeão como Jorge Mendes ou Cristiano Ronaldo seja um fator de orgulho nacional e que haja a tendência para proteger esses 'campeões nacionais'", advoga.
Paralelamente, as dificuldades da justiça para trilhar os caminhos da economia paralela no futebol global levam Pippo Russo a defender a criação de um órgão independente de investigação, livre das esferas de influências nacionais e desportivas.
"Não podem ser as autoridades nacionais civis ou desportivas; o negócio é global e tem de ser investigado a nível global por um órgão independente a ser concebido. De momento, é só um cenário, mas não consigo ver outra solução. Não é um problema que possa ser encarado pelos órgãos nacionais, porque não é um problema nacional", sentencia.