A guineense Leopoldina Ross Davies tem 41 anos e há 17, depois de ter sido campeã africana de luta livre, que anda a arbitrar os jogos de futebol da Guiné-Bissau, incluindo os do campeonato nacional masculino.
"Acho que é uma coisa normal como ser jogador", afirmou à agência Lusa no estádio Lino Correia, em Bissau, depois de mais um treino matinal.
Árbitra da FIFA desde 2008, Leopoldina Ross Davies já apitou jogos internacionais na Nigéria, Guiné Equatorial, Mali, Guiné-Conacri e Gana e é comum vê-la a apitar o campeonato nacional guineense.
Medalha de ouro no campeonato africano de luta livre na categoria dos 48 quilogramas e 12.ª classificada nos Jogos Olímpicos da Grécia na mesma modalidade, Leopoldina Ross Davies é formada em educação física e desporto e acumula a arbitragem com a direção técnica da luta livre na Guiné-Bissau, que também continua a treinar.
Sobre ser uma exceção, porque efetivamente não é comum ver mulheres a arbitrar jogos de futebol masculinos, Leopoldina Ross Davies não o considera.
"É difícil, mas não é impossível. É difícil porque os homens não querem que as mulheres sejam como eles", disse.
Questionada sobre se alguma vez sofreu uma agressão em campo, a árbitra salientou que "nunca aconteceu".
"Não sofri nenhuma agressão física", mas verbal até "acha normal", afirmou, acrescentando que na rua também nunca teve qualquer problema.
Para Leopoldina Ross Davies, os melhores jogos de arbitrar são os das "equipas grandes".
Já apitou um Benfica-Sporting e "foi bom".
"É só aplicar o que eu sei da arbitragem, as regras da arbitragem. Apito todos os jogos e fico muito contente quando são as equipas grandes", disse.
Chegou até ao campeonato nacional masculino, porque, explicou, o conselho de arbitragem guineense teve confiança no seu trabalho.
"Temos de apitar os campeonatos dos homens, porque são mais duros, são mais fortes e temos mesmo de aplicar as leis. Gosto mais de arbitrar os jogos masculinos", explicou.
Sobre a fama de ser severa em campo, Leopoldina Ross Davies é perentória.
"Pois é, porque eu respeito o meu trabalho. Podemos brincar fora do campo, mas já com o jogo lá dentro não brinco mesmo. Eu dou cartão quando merecem", afirmou.
Leopoldina Joss Davies gostava de ficar mais três anos na arbitragem, completar os 20 anos como árbitra, depois continuar a sua vida como professora e treinadora de luta livre.