A introdução do vídeoárbitro (VAR) foi uma das grandes novidades da edição 2017/18 da I Liga portuguesa de futebol e, aparentemente, veio para ficar, mas quem esperava que as polémicas ‘desaparecessem’ enganou-se rotundamente: tudo como antes.
Numa altura em que, fora do campo, FC Porto e Sporting, de um lado, e Benfica, do outro, travam uma ‘guerra’ sem fim à vista, o VAR tem sido mais uma ‘arma de arremesso’, um instrumento para atacar os rivais, o que também tem dificultado este período experimental.
As queixas não são, porém, longe disso, um exclusivo dos ‘grandes’, pois de todos os quadrantes chegam críticas ao videoárbitro, ao seu modo de funcionamento, aos critérios usados, ou falta deles, e, em particular, a decisões difíceis de perceber.
As grandes penalidades, nomeadamente os toques da bola com as mãos ou o grau de intensidade nas faltas, continuam envoltas em polémicas, mas também os ‘erros grosseiros’, que o VAR prometia aniquilar, não tiveram decisões pacíficas, concretamente no que respeita aos lances de ‘fora de jogo’.
Os árbitros também têm demonstrado não estar ainda adaptados à nova situação, nomeadamente quando, por indicação dos auxiliares, apitam precipitadamente em situações de alegado ‘fora de jogo’, ‘matando’ a possibilidade de intervenção do VAR.
A contestação, nomeadamente dos treinadores, tem sido uma constante ao longo da prova, com a ausência de explicações, dos responsáveis, pela a tomada ou não tomada de decisões pelo VAR, também a não ajudar a um maior esclarecimento.
“Infelizmente, o vídeoárbitro começou mal”, foram as palavras do treinador do Vitória de Setúbal, José Couceiro no final do primeiro jogo, queixando-se da expulsão de Vasco Fernandes.
À terceira ronda, o treinador do Desportivo das Aves, Ricardo Soares pedia para lhe explicarem “esta coisa do vídeoárbitro” e Vasco Seabra criticava o penálti, por um braço “encostado ao corpo”, que derrotou o Paços na Feira: “É lamentável o árbitro ter a possibilidade de rever o lance e manter uma decisão errada”.
Um fora de jogo ‘milimétrico’, assinalado pelo VAR, impediu o Portimonense de empatar na Luz, à quinta ronda, e Vítor Oliveira pediu “critérios bem definidos”, como, dias depois, Sérgio Conceição, numa altura em que a sua contabilidade já ia em “quatro penáltis claros” não assinalados a favor do FC Porto”.
A sexta jornada teve um lance em que “a bola passou a linha de baliza e o golo tinha de ser validado”, segundo Couceiro, e, à oitava, o técnico do Benfica, Rui Vitória, queria “entender qual o critério de mão na bola ou bola na mão”.
Nas Aves, rumo ao 3-1, Jonas deu um “empurrão a Nildo” e Lito Vidigal disse que “não fazia mal (o árbitro) ter ido ao vídeoárbitro”, numa nona jornada em que Pedro Martins dizia que, “sentado com oito ecrãs de televisão”, o VAR (no caso Bruno Esteves) tinha “obrigação de tomar decisões certas”.
O treinador do Boavista, Jorge Simão, considerou, à 10.ª ronda, “inacreditável” o penálti que iniciou a reviravolta do Tondela, “podendo ser suportado pelas imagens do vídeoárbitro”, e, à 12.ª, Sérgio Conceição lamentou que o árbitro e o videoárbitro não tenham visto “um penálti claro” para o FC Porto, nas Aves (1-1).
O técnico portista voltou à carga à 13.ª ronda, após o 0-0 com o Benfica (0-0): “Houve a situação de um penálti (mão de Luisão) que é claro. Têm de meter cá fora (a conversa) entre o VAR e o árbitro. Se não, andamos todos aos papeis”.
“E, depois, um golo limpo, em que o Salvio estava na bandeirola e o golo era claro”, disse ainda, numa jogada em que os jogadores do FC Porto estavam em posição legal, mas o ‘apito’ do árbitro Jorge Sousa, seguindo a indicação do auxiliar, anulou o lance.
Vítor Oliveira fez, depois, à 13.ª, um balanço negativo: “O VAR é um instrumento importante para a transparência do futebol. Já se passaram muitas coisas erradas. Temos 18 casos que o VAR resolveu, mas há outros tantos em que não esteve bem. É importante uniformizar critérios. Se isto fosse tão bom não haveria motivos para o VAR não estar presente no próximo Campeonato do Mundo”.
“Se o vídeoárbitro não vê isto, não estão lá a fazer nada. Tem de ver ou não vale a pena. Chega”, acrescentou após a ronda seguinte e um penálti que derrotou o Portimonense. Em Setúbal, Couceiro viu uma “falta clara” de Aboubakar sobre Edinho, antes de se iniciar a goleada do FC Porto (5-0).
Seguiu-se o dérbi Benfica-Sporting, na ronda 16, e muita polémica (1-1 na Luz): “Se os lances são duvidosos, porque é que o árbitro não vai observar o ecrã no terreno. Se calhar, se fossem ver, não seriam aquelas as decisões”, queixou-se Rui Vitória.
Quem ainda não criticou o VAR, pelo contrário, foi o treinador do Sporting, Jorge Jesus: “Dizem que tira emoção, mas ele dá emoção. O VAR veio trazer verdade desportiva, é uma ferramenta para ajudar. Vai continuar a haver erros, mas o VAR não vem para ser polémico, pelo contrário", disse, logo à quarta jornada.
A polémica foi, porém, muita e durou até ao minuto 90 do último jogo, ao golo apontado em fora de jogo pelo angolano Mateus, permitindo ao Boavista empatar 1-1 no Restelo. Para já, o VAR ainda é uma espécie da ‘verdade da mentira’.