O antigo árbitro internacional Marco Ferreira considera que o sistema de videoárbitro (VAR) veio expor as fragilidades de arbitragem portuguesa e admite que caso não sejam feitas alterações rápidas poderão existir problemas graves até final da época futebolística.
“É na segunda volta que as grandes decisões vão ser tomadas, porque temos equipas que estão a disputar o título muito próximas umas das outras. Cada vez mais se vai arrastando esta polémica e não se vê mudança nenhuma na aplicação do VAR. Penso que iremos ter grandes e graves problemas até ao final da época”, disse o antigo árbitro à agência Lusa.
Segundo Marco Ferreira, “o VAR veio expor as fragilidades da qualidade que temos atualmente na arbitragem portuguesa e o que se tem visto nos jogos é que o árbitro de campo e o árbitro que está a fazer VAR refugiam-se nos problemas sistema”, disse Marco Ferreira.
Na opinião do madeirense, o árbitro “que tem a possibilidade de visualizar o monitor em campo, não o faz porque não quer assumir a responsabilidade de uma decisão” e “quem está no VAR esconde-se muito na questão da dúvida”.
Para Marco Ferreira, o facto de tanto o árbitro de campo como o do VAR estarem “à defesa” faz com que “os erros aconteçam e não sejam identificados”.
Considerando que o sistema “dá algumas garantias de eliminação de erros grosseiros”, Marco Ferreira refere, no entanto, que a sua aplicação em Portugal – que começou no início da presente época – foi feita “de forma muito rápida e num ambiente de grande turbulência em relação à arbitragem”.
O antigo árbitro, que terminou a carreira no final da época 2014/15, aos 38 anos, entende que “os árbitros não estão preparados” para a aplicação do VAR, que o sistema não foi bem explicado ao público e que o “clima de guerrilha” entre clubes também não é benéfico.
“As pressões que existem, o ambiente de guerrilha que existe entre os clubes não dá espaço para que uma nova tecnologia seja aplicada da melhor forma, porque as expectativas das pessoas foram muito elevadas”, afirmou.
Segundo Marco Ferreira, teria sido muito importante detalhar o sistema: “Era preciso explicar às pessoas que o VAR não vem resolver todos os problemas relativos à arbitragem, e os próprios árbitros têm sentido dificuldade em aplicar uma tecnologia que deveria ser aplicada em beneficio da arbitragem, e neste momento só esta a criar mais problemas”.
Defendendo que os árbitros fora do ativo poderiam ser uma mais-valia no sistema de VAR, Marco Ferreira lamenta a postura da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) em todo o processo e na defesa dos seus associados.
“A APAF não existe e acho os árbitros deviam de estar preocupados com isso e fazer com que sua associação de classe tenha a força, o poder e o apoio de todos para poder enfrentar as dificuldades”, afirmou.
Marco Ferreira considerou ainda que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), responsável pelo sistema, está a ter algumas atitudes que “fazem crer que quer mudar alguma coisa”, nomeadamente através contratação de David Elleray, diretor técnico do International Board (IFAB), para consultor do Conselho de Arbitragem para a área da videoarbitragem.
“Vamos ver se irá ser uma mais-valia, vamos ver se existirá coragem de fazer alterações nesta altura”, afirmou o antigo árbitro.