A história dos Mundiais de futebol, edição a edição, de 1930 a 2014.
1930: Uruguai histórico primeiro campeão, em casa
O Uruguai, então bicampeão olímpico em título, entrou para a história em 1930 como o primeiro campeão mundial de futebol, ao triunfar em casa, de forma convincente, perante 12 ‘convidados’ e a ausência as principais formações europeias.
A formação ‘celeste’, comandada por Alberto Suppicci, chegou ao cetro ao bater Peru (1-0) e Roménia (4-0), na primeira fase, e, após reviravoltas, a Jugoslávia (6-1), nas meias-finais, e a Argentina (4-2), na final.
Num conjunto em ‘WM’ (2-3-5) e que valeu pelo coletivo, destaque individual para o guarda-redes Enrique Ballestrero, José Leandro Andrade, Hector Scarone e Pedro Cea, autor de cinco tentos, contra oito do argentino Guillermo Stábile.
1934: Itália aproveita ausências e ganha segunda edição
A Itália aproveitou as muitas ausências, nomeadamente do campeão em título Uruguai, para conquistar em 1934 a segunda edição do Mundial, aproveitada pelos anfitriões para exaltar o regime de Mussolini, em altura conturbada em termos políticos.
Numa competição sempre a eliminar, o ‘onze’ de Vittorio Pozzo chegou ao título com dificuldades, já que, após uma goleada a abrir, somou um empate, precisando de um jogo de desempate para bater a Espanha, e três vitórias tangenciais.
Raymundo Orsi, Luís Monti, Angelo Schiavio, autor do golo do título, no prolongamento da final com a Checoslováquia (2-1), Giuseppe Meazza, considerado o melhor jogador italiano de sempre, e o guarda-redes Giampiero Combi brilharam nos campeões.
1938: Itália ‘bisa’ na vizinha França, em Europa angustiada
A Itália revalidou em França o título conquistado quatro anos antes em casa, em mais uma edição sempre a eliminar e novamente marcada pelo clima angustiante que se vivida na Europa, onde se faziam, em vão, esforços em prol da Paz.
Os transalpinos, ainda liderados por Vittorio Pozzo, justificaram o ‘bis’, com quatro vitórias em quatro jogos, num percurso culminado com um triunfo por 4-2 sobre a Hungria, que era apontada à partida como a grande favorita.
O ‘capitão’ Giuseppe Meazza liderou os ‘transalpinos’, que introduziram com sucesso o ‘catenaccio’, secundado por Silvio Piola, autor de cinco golos, um deles no prolongamento dos ‘oitavos’, face à Noruega, e Gino Colaussi, com quatro tentos.
1950: Uruguai regressa e ‘bisa’, instalando o drama no Brasil
Duas décadas depois de vencer a primeira edição, o Uruguai, ausente em 1934 e 1938, voltou em 1950 para ‘bisar’ e deixar em ‘estado de choque’ o anfitrião Brasil, que bateu por 2-1 no jogo decisivo, depois de estar a perder, o ‘Maracanazo’.
Na única edição sem final, os ‘canarinhos’ chegaram ao último jogo do grupo a quatro que decidiu o cetro apenas necessitados de empatar, mas, perante 173.850 incrédulos espetadores e depois de estarem a vencer, acabaram derrotados por 2-1.
Juan Albert Schiaffino e Alcides Ghiggia espalharam um verdadeiro ‘silêncio de morte’ no Maracanã e entraram na lenda dos Mundiais, como Óscar Miguez, Ovdulio Varela e Victor Andrade, num ‘celeste’ conjunto comandado por Juan Lopez.
1954: ‘Super’ Hungria batida surpreendentemente pela RFA
A Hungria, uma geração fabulosa, com Ferenc Puskas, Zoltan Czibor, Sandor Kocsis ou Jozsef Bozsik, era clara favorita ao triunfo em 1954, mas, na Suíça, caiu na final perante a RFA por 3-2, depois de liderar por 2-0, após nove minutos.
Helmut Rahn, autor de dois golos, foi o grande ‘herói’ dos germânicos, que cometeram a proeza de deixar sem título mundial uma das melhores seleções da história, liderada por Gusztava Sebes, com a qual havia perdido dias antes por 8-3.
O futebol força e pragmático da RFA, de Fritz Walter, Ottmar Walter, Maximilian Morlock, Rahn ou Hans Schafer, logrou a “surpresa futebolística do século XX”, face a uma Hungria que marcou 27 golos, 11 dos quais, ainda um recorde, de Kocsis.
1958: Miúdo Pelé conduz Brasil ao primeiro título
Pelé, um miúdo de 17 anos, conduziu o Brasil ao seu primeiro título mundial e ainda único conquistado na Europa, em 1958, na Suécia, onde os ‘canarinhos’, em ‘4-4-2’, encantaram e estiveram claramente acima de toda a concorrência.
Os brasileiros, de Vicente Feola, foram demolidores, nomeadamente nos jogos decisivos, aplicando 5-2 nas ‘meias’ à França, de Just Fontaine - autor de irrepetíveis 13 golos - e Raymond Kopa, e os mesmos 5-2 na final à Suécia.
Autor de seis golos, um ao País de Gales (1-0, nos ‘quartos), três à França e dois à Suécia, Pelé foi a grande ‘estrela’ dos ‘canarinhos’, que também tiveram em destaque Garrincha, mais Gilmar, Didi, Vavá, Zagalo, Nilton Santos, Bellini e Orlando.
1962: Brasil ‘bisa’, agora ao ‘ritmo’ de Garrincha
O Brasil perdeu cedo Pelé, por lesão, após dois jogos, mas, ao ‘ritmo’ do ‘drible de deus’ de Garrincha, revalidou o título em 1962, no Chile, onde, com um futebol claramente superior ao dos adversários, igualou os ‘bis’ de Itália e Uruguai.
Garrincha deu o mote, empurrando com a sua técnica a equipa para a frente, o que contagiou o grupo, com outros jogadores de qualidade, de Gilmar a Vavá, incluindo Didi, Djalma Santos e Zagalo e Amarildo, que teve o mérito de fazer esquecer o ‘Rei’.
O ‘onze’ de Aimorá Moreira, que fugiu à mediocridade geral, só cedeu um empate, face à Checoslováquia, que, depois bateu na final por 3-1, com tentos de Amarildo, Zito e Vavá, depois de ter estado a perder, face a um golo do craque Josef Masopust.
1966: Inglaterra vence com polémica o Mundial de Eusébio
Um dos golos mais controversos da história, o segundo dos três de Geoff Hurst na final, foi decisivo para a Inglaterra bater (4-2) a RFA, após prolongamento, e conquistar, em casa, a edição 1966, marcada pelas proezas do português Eusébio.
O ‘Pantera negra’ foi o melhor marcador da prova, com nove golos, quatro deles à Coreia do Norte, virando um 0-3, e um aos ingleses, que bateram a equipa das ‘quinas’ nas meias-finais por 2-1, com um ‘bis’ de Bobby Charlton, uma das figuras inglesas.
Gordon Banks, Jackie Charlton, Bobby Moore, Roger Hunt e Martin Peters também se destacaram no ‘onze’ de Alf Ramsey, numa competição em que o Brasil, com a ‘ajuda’ de Portugal, e a Itália caíram na primeira fase e o Uruguai nos ‘quartos’.
1970: Brasil leva a Taça Jules Rimet e Pelé é tricampeão
O Brasil conquistou em 1970, no México, a Taça Jules Rimet, ao ser o primeiro país a chegar aos três cetros, sob a batuta de Pelé, único futebolista com três títulos mundiais, secundado por Jairzinho, Rivelino, Tostão, Carlos Alberto, Clodoaldo e Gerson.
Sob o comando de Mario Zagallo, jogador nos dois primeiros cetros, os ‘canarinhos’ venceram os seis jogos disputados, incluindo um 3-1 ao Uruguai, nas ‘meias’, e um claro 4-1 à Itália, de Facchetti, Mazzola e Riva, na final.
A prova foi ainda marcada individualmente pelo alemão Gerd Müller, que marcou 10 golos, um nos 3-2 à Inglaterra, nos ‘quartos’, e dois nos 3-4 com a Itália, nos ‘quartos’, dois ‘jogões’ resolvidos no prolongamento.
1974: Anfitriã RFA faz à Holanda o que fez à Hungria e ‘bisa’
A República Federal Alemã aproveitou o ‘fator casa’ e arrebatou em 1974 o seu segundo título mundial, ao superar o ‘futebol total’ da Holanda, a ‘laranja mecânica’ de Rinus Michels, que era a incontornável favorita, como a Hungria, em 1954.
A melhor Holanda da história, liderada pela classe de Johan Cruyff, ladeado por Rensenbrink, Rep, Neeskens, Haan ou Krol, caiu na final face aos germânicos, vencedores por 2-1, após o 0-1 inicial, com tentos de Paul Breitner e Gerd Müller.
Franz Beckenbauer e o guarda-redes Sepp Maier foram outras figuras da RFA, que não se livrou de um humilhante desaire, face à vizinha RDA (0-1), numa prova em que também brilharam os polacos, terceiro, com sete golos de Grzegorz Lato.
1978: Argentina torna-se a sexta campeã, em casa
A Argentina tornou-se a sexta seleção a sagrar-se campeã mundial, ao vencer em casa a edição 1978, numa prova que terminou em grande festa com um triunfo por 3-1 sobre a Holanda, que, sem Cruyff, perdeu a segunda final consecutiva.
Em Buenos Aires, com confetes a voar por todo o lado, Mario Kempes, que tinha passado ao ‘lado’ da primeira fase, foi o ‘herói’ dos argentinos, com dois tentos na final, um deles já no prolongamento, para um total de seis na prova.
Luís César Menotti, que não convocou Maradona (17 anos), viu ainda brilhar Fillol, Passarella, Tarantini, Ardiles, Bertoni ou Luque, mas penou, já que foi preciso golear o Peru no fecho da segunda fase e, na final, Resenbrink atirou ao poste aos 90.
1982: Itália, de Paolo Rossi, elimina e iguala Brasil
A Itália igualou em 1982, em Espanha, os três títulos do Brasil, numa prova em que, depois de quase ‘tombar’ na primeira fase, tornou-se imparável, ao ‘som’ dos golos de Paolo Rossi, que não era apontado como eleito para o Mundial e acabou como ‘herói’.
Rossi ficou em ‘branco’ nos primeiros quatro jogos, mas, ‘teimoso’, Enzo Berzott manteve o jogador da Juventus no ‘onze’ e este retribuiu com um inesquecível ‘hat-trick’ ao Brasil, um ‘bis’ à Polónia e o tento inaugural na final com a RFA (3-1).
Os brasileiros apresentaram a melhor a equipa pós Pelé, mas Zico, Sócrates, Éder, Falcão ou Júnior caíram aos pés de Rossi, numa edição com jogos para a lenda, como o 5-4 da RFA à França nos penáltis, após 3-3 nos 120 minutos, nas meias-finais.
1986: Maradona ‘dança’ a solo o ‘tango’ do ‘bis’ argentino
Diego Armando Maradona ‘dançou’ a solo o ‘tango’ do segundo título argentino no Mundial, em 1986, no México, onde Pelé arrebatara a Taça Jules Rimet, com atuações e golos memoráveis, nomeadamente os que face à Inglaterra.
No mesmo jogo, marcou um golo com a ‘mão de Deus’ e outro após fintar ‘meia equipa’ inglesa, o melhor da história, numa prova em que também ‘bisou’ nas ‘meias’, face à Bélgica, e, na final, com a RFA, fez o passe a isolar Burruchaga para o 3-2 final.
Maradona monopolizou tudo e, no Azteca, levou bem alto a ‘sua’ Taça do Mundo, numa prova em que a qualidade do futebol deixou a desejar e ‘demasiados’ jogos foram decididos na ‘lotaria’, incluindo todos os dos ‘quartos’, exceto o da Argentina.
1990: RFA chega ao ‘tri’ e impede ‘milagre’ de Maradona
Maradona foi o protagonista do Mundial de 1990, em Itália, mas, desta vez, a Argentina caiu na final perante à RFA, que chegou ao ‘tri’, igualando brasileiros e transalpinos, graças a um penálti ‘fantasma’ de Andreas Brehme, aos 85 minutos.
Sob o comando de Beckenbauer, e com jogadores como Matthaus,e Klinsmann, os germânicos foram os mais fortes, mas a Inglaterra, de Bobby Robson, e a Itália, de ‘Totó’ Schillaci e Roberto Baggio, também encantaram, tal como os Camarões, do veterano Roger Milla.
Mas, acima de tudo, ficaram os ‘momentos Maradona’, as suas lágrimas após uma final em que o hostilizaram, não lhe perdoando ter afastado a Itália, em Nápoles, onde era e ainda é um ‘Deus’ e foi apoiado, já depois de ter ‘arrumado’ o Brasil.
1994: Brasil chega ao ‘tetra’, ao bater Itália nos penáltis
O Brasil tornou-se em 1994 o primeiro tetracampeão mundial, ao vencer a Itália, que perseguia o mesmo objetivo, na primeira final decidida no desempate por grandes penalidades (3-2), após 120 minutos sem golos, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Na primeira vitória pós Pelé, os ‘canarinhos’, de Carlos Alberto Parreira, não encantaram, apesar de Romário e Bebeto, mas, pragmáticos, foram bem mais regulares do que a Itália, que ‘viveu’ às custas de vários ‘milagres’ de Roberto Baggio.
Destaque ainda para a Bulgária, de Stoitchkov, que eliminou a Alemanha, a Roménia, de Hagi, ‘carrasca’ da Argentina, já sem Maradona, excluído por doping, a Suécia, de Kennet Andersson, e a Rússia, pelos 6-1 aos Camarões, com cinco golos de Salenko.
1998: Zidane fez da França a sétima campeã, com ‘bis’ na final
Dois cabeceamentos idênticos de Zinédine Zidane, após cantos, embalaram a anfitriã França para se tornar em 1998, também com Barthez, Thuram, Blanc, Petit ou Deschamps, a sétima campeã do Mundo, com um categórico triunfo por 3-0 sobre o Brasil, na final.
O ‘onze’ de Aimé Jacquet guardou o melhor para o fim, face a um Brasil com Rivaldo, Roberto Carlos e Ronaldo, mas com este diminuído, após percurso ‘sinuoso’, que incluiu uma vitória sobre a Itália na ‘lotaria’ e triunfos suados face a Paraguai e Croácia.
A estreante Croácia, de Suker, surpreendeu, com o terceiro lugar, à frente da Holanda, que afastou a Argentina com um golo espetacular de Bergkamp, numa prova em que também de destacou a Inglaterra, de Michael Owen, e em que a Espanha desiludiu.
2002: Ronaldo ‘ressuscita’ e faz do Brasil pentacampeão
O ‘ressuscitado’ Ronaldo conduziu em 2002 o Brasil, de Luiz Felipe Scolari, ao ‘penta’, na primeira edição asiática e em dois países (Coreia do Sul e Japão), após uma qualificação desastrosa, com 62 jogadores utilizados, quatro técnicos e nove derrotas.
Então jogador do Inter de Milão, e com 25 anos, o ‘Fenómeno’, que só disputara 24 jogos em três anos, apareceu no momento certo, com o golo da vitória sobre a Turquia (1-0), nas meias-finais, e o ‘bis’ na final com a Alemanha (2-0), de Kahn e Ballack.
Ronaldo formou com Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho um trio de ataque demolidor, numa prova em que muitos favoritos caíram cedo demais, como a detentora França e a Argentina, enquanto Espanha e Itália foram vítimas das arbitragens face à Coreia do Sul.
2006: Itália chega ao ‘tetra’ com sorte e pragmatismo
A Itália sagrou-se tetracampeã mundial em 2006, na Alemanha, ao bater a França na final, num desempate por grandes penalidades (5-3) em que esteve perfeita, ao contrário do que tinha acontecido no jogo decisivo de 1994, face ao Brasil.
Fabio Cannavaro e Gianluigi Buffon foram os ‘alicerces’ dos transalpinos, mas ouve espaço para Andrea Pirlo brilhar, enquanto Franck Ribéry destacou-se nos gauleses, mais do que Zidane, que terminou da pior forma, à cabeçada a Marco Materazzi.
Numa prova que foi uma festa, a Europa monopolizou as meias-finais, às quais também chegaram Portugal, 40 anos depois de Eusébio, e a seleção anfitriã, liderada por Miroslav Klose, melhor marcador da prova, com cinco golos.
2010: Espanha oitava campeã, com o ‘tiki-taka’ do FC Barcelona
A Espanha tornou-se em 2010 a oitava seleção a chegar ao título mundial, ao impor-se na África do Sul apoiada no ‘tiki-taka’ introduzido por Pep Guardiola no FC Barcelona, a base que Vicente Del Bosque teve a mestria de saber aproveitar.
Um golo de Andrés Iniesta, aos 117 minutos da terceira final perdida pela Holanda, selou o sucesso dos espanhóis, pelos quais também brilharam Casillas, Piqué, Puyol, que decidiu as ‘meias’, face à Alemanha, Xavi e David Villa, autor de cinco golos.
A Holanda, de Sneijder e Robben, também brilhou, afastando Brasil e Uruguai, e a Alemanha, de Thomas Müller, só caiu face aos espanhóis, como na final do Euro2008, depois de parecer imparável, ao ‘cilindrar’ a Inglaterra e a Argentina.
2014: Alemanha chega ao ‘tetra’, à custa do Brasil e Messi
A Alemanha igualou os quatro cetros da Itália em 2014, ao impor-se no Brasil, num trajeto marcado pelos impensáveis 7-1 aos anfitriões nas meias-finais, antes do 1-0 à Argentina, na final, com um tento de Mario Götze na segunda parte do prolongamento.
Os germânicos, que selaram a primeira vitória europeia na América, foram ‘demasiado’ fortes, com Neuer, Lahm, Kroos, Müller ou Klose, mesmo para Messi, que esteve perto de repetir o feito de Maradona, acabando com quatro golos e o prémio de melhor jogador.
A Holanda, que acabou em ‘grande’, com um 3-0 ao Brasil, na atribuição do bronze, teve em Arjen Robben a sua grande figura, enquanto os anfitriões, com Neymar em destaque e Scolari de regresso ao banco, reviveram o ‘Maracanazo’ de 1950 no Mineirão.