A participação da Argentina no Mundial de futebol de 1998, em França, ficou sobretudo marcada pela ‘guerra’ promovida pelo selecionador Daniel Passarella aos cabelos compridos, e não só, e que acabou por resultar em duas ‘vítimas de peso’.
‘Estrelas’ como Gabriel Batistuta, Ariel Ortega, Matias Almeyda e Marcelo Gallardo, com mais ou menos ‘barulho’, acabaram por acatar as ordens do técnico argentino, mas Claudio Caniggia, antigo jogador do Benfica, e Fernando Redondo juraram amor eterno ao seu cabelo e falharam mesmo o torneio francês, não tendo voltado a vestir camisola ‘albi-celeste’ em jogos oficiais.
“Estava em grande forma nessa altura, mas Passarella tinha incutido novas regras de disciplina, que incluía ter que usar cabelo curto. Nunca entendi o que é que isso tinha a ver com jogar futebol. Fui chamado duas vezes com a condição de ter que cortar o cabelo. Disse que não e não”, contou Redondo, que em 1998 atuava no Real Madrid.
Tudo começou após o Mundial de 1994, nos Estados Unidos, quando Daniel Passarella substituiu Alfio Basile no comando da Argentina, que vinha de uma surpreendente eliminação nos oitavos de final, frente à Roménia (3-2).
Passarella prometeu mudar a mentalidade do futebol argentino e baniu o uso de cabelos compridos, mas também de brincos e jogadores homossexuais, atitude que também foi adotada por alguns clubes do país.
A polémica ‘estalou’ na Argentina, com algumas vozes a acusarem o selecionador de ter um comportamento fascista, enquanto outras concordaram e defenderam que os jogadores tinham deveres para a sua seleção e que deviam respeitar as novas regras.
Em fim de carreira no Boca Juniors, Diego Maradona foi dos mais críticos de Passarella, tendo mesmo pintado o cabelo de loiro em apoio a Redondo e a Caniggia, na altura seu colega de equipa na formação de Buenos Aires.
Após duas campanhas da Copa America, em 1995 e 1997, em que a Argentina caiu nos quartos de final, as críticas a Daniel Passarella aumentaram, mas o treinador confirmou a apuramento para o Campeonato do Mundo de 1998, vencendo o grupo de qualificação.
Na altura de escolher a lista final de convocados para o torneio que decorreu em solo francês, Passarella voltou a tentar convencer Redondo e Caniggia, mas não cedeu na questão do cabelo. Os dois jogadores voltaram a rejeitar o pedido do treinador e preferiram falhar o Campeonato do Mundo do que cortar o cabelo.
A Argentina acabaria por ser eliminada nos quartos de final pela Holanda, por 2-1, com um golo fantástico de Dennis Bergkamp já nos minutos finais. Passarella abandonou a seleção e foi rendido por Marcelo Bielsa, que permitiu o regresso das ‘cabeleiras’ ao futebol do seu país.