O “mea culpa” do ex-árbitro Jorge Coroado na marcação de uma grande penalidade a favor do Benfica contra o FC Porto, marcou hoje a sessão do julgamento do processo Apito Dourado, em Gondomar.
Quando se analisava o lance de uma grande penalidade que deu a vitória ao Gondomar frente ao Pedras Rubras (1-0), no campeonato nacional de futebol da II Divisão de 2003/04, Jorge Coroado, a título de exemplo, confessou ter assinalado mal uma grande penalidade contra o FC Porto por deficiente indicação do auxiliar.
“Vinha em recuperação. Puni o guarda-redes Vítor Baía com o cartão amarelo, mas quando cheguei ao meu assistente ele disse que se tinha enganado e não tinha havido infracção, era ao contrário, e não voltei atrás na minha decisão”, adiantou.
Jorge Coroado, ouvido na qualidade de perito em arbitragem, confessou que “as imagens não são suficientemente esclarecedoras” nos lances mais polémicos do jogo Pedras Rubras-Gondomar e admitiu que tanto podia prejudicar uma como outra equipa.
De acordo com o ex-árbitro internacional, há duas situações chave no jogo. O lance de uma alegada grande penalidade que poderá ter ficado por marcar contra o Pedras Rubras e uma marcado a favor do Gondomar.
Jorge Coroado admitiu que, tanto numa como noutra situação, aceitava uma hipótese ou outra, ou seja, a marcação do castigo no primeiro e a não marcação no segundo, e evitou a apreciação ao árbitro por não ter visto a totalidade do jogo.
A apreciação dos lances mais polémicos do jogo deixou no ar a subjectividade da análise, já que, apesar de sucessivas repetições e imagens paradas, Jorge Coroado admitiu diferentes leituras para a mesma situação.
Um dos lances que mereceu especial atenção foi o de uma alegada grande penalidade a favorecer o Gondomar, aos 70 minutos do jogo com o Pedras Rubras, da época 2003/2004, numa altura em que o resultado era 0-0.
Jorge Coroado defendeu que aceitava que o árbitro Pedro Sanhudo não tivesse marcado a grande penalidade, para punir falta cometida na linha da área, mas também aceitava se a tivesse marcado.
A defesa do Gondomar questionou Jorge Coroado se achava que, se o árbitro tivesse intenção de beneficiar alguma das equipas, esta seria a falta ideal, ao que o perito concordou que sim, já que era “um lance sem sombra de dúvida duvidoso”.
A grande penalidade que deu a vitória ao Gondomar a minutos do fim do jogo com o Pedras Rubras (1-0) mereceu igual análise por parte de Jorge Coroado, que também admitiu não conseguir analisar com exactidão da sua existência ou não.
Coroado registou ainda dois erros do auxiliar de Pedro Sanhudo, João Macedo, considerando que “o assistente que considera o referido lance uma tentativa de rasteira não tem categoria para andar nos campeonatos nacionais”.
Ainda em relação ao jogo Pedras Rubras-Gondomar, e em concreto ao lance da grande penalidade, foi destacado que o outro assistente de Pedro Sanhudo, Ricardo Pinto, não hesitou em levantar a bandeira.
O procurador Gonçalo Silva leu, a propósito, o excerto de um registo telefónico entre os árbitros Óscar Coutinho e Pedro Sanhudo, em que o primeiro dizia ao segundo: “se eles (Gondomar) não ganhavam estavas tramado”.
Ainda de acordo com a escuta efectuada após o jogo Pedras Rubras-Gondomar, Pedro Sanhudo responde a Óscar Coutinho dizendo que “o Ricardo é que marcou a grande penalidade. Ele é que sabe o que anda a fazer”.
“Se ele (Ricardo Pinto) não marcasse a grande penalidade tu então não marcavas?”, questiona Óscar Coutinho, ao que Pedro Sanhudo responde “não”, explicando, em seguida, como decorreu o lance.
Jorge Coroado abordou, em seguida, os jogos do Gondomar com Sporting de Braga “B”, Bragança e Paredes, que foram já alvo de análise em relatório, apontando erros pontuais, quer técnicos quer de ordem disciplinar.
O perito esclareceu ainda o Tribunal sobre alguns aspectos configurados na lei e recomendados aos árbitros, como a conduta violenta, antidesportiva, lei da vantagem e protecção da integridade física do jogador.
O processo Apito Dourado, que incluiu investigações a alegados casos de corrupção e tráfico de influências no futebol, foi tornado público a 20 de Abril de 2004, com a detenção para interrogatório de vários dirigentes e árbitros.