As agressões na Academia do Sporting foram o momento mais negro de um 2018 conturbado no clube, que assistiu à destituição de Bruno de Carvalho de presidente e à sua constituição como arguido na investigação da ‘invasão’ em Alcochete.
Em 15 de maio, dois dias depois de o Sporting ter sido derrotado na visita ao Marítimo, deixando escapar para o Benfica o segundo lugar da I Liga e o apuramento para a Liga dos Campeões, cerca de 40 encapuzados entraram na Academia e agrediram elementos da equipa principal de futebol.
As autoridades detiveram vários elementos ligados à Juventude Leonina, até que, em 11 de novembro, Bruno de Carvalho e Mustafá, líder da claque, foram detidos e constituídos arguidos, mas ficaram em liberdade, com o ex-presidente acusado de ser autor moral de crimes classificados como terrorismo e de outros 98 ilícitos.
Bruno de Carvalho e o plantel tiveram o seu primeiro grande ‘choque’ em 05 de abril, quando o presidente, no Facebook, criticou os jogadores após a derrota com o Atlético de Madrid, na Liga Europa.
No dia seguinte, também através das redes sociais, a grande maioria do plantel publicou um comunicado a condenar as críticas de Bruno de Carvalho, que voltou a responder através do Facebook, numa mensagem apenas visível para amigos, anunciando a suspensão dos jogadores, a quem chama de “meninos mimados”. Contudo, a suspensão não chega a ser oficializada.
Dois dias antes do ataque à Academia, alguns elementos da Juve Leo confrontam os jogadores no aeroporto, após a derrota com o Marítimo, entre os quais Fernando Mendes, antigo líder da claque, que também foi detido.
Um mês antes de ser detido e dois dias depois da detenção de Bruno Jacinto, antigo oficial de ligação aos adeptos do Sporting, Bruno de Carvalho apresentou-se voluntariamente no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) para prestar declarações.
O ataque à Academia aconteceu cinco dias antes da final da Taça de Portugal, que os ‘leões’ perderam com o Desportivo das Aves, com o treinador Jorge Jesus a dizer que nunca se devia ter jogado, sendo que Bruno de Carvalho não esteve no Jamor.
Rui Patrício foi o primeiro jogador dos ‘leões’ a rescindir, alegando justa causa, em 01 de junho, seguindo-se Daniel Podence, William Carvalho, Gelson Martins, Rúben Ribeiro, Rafael Leão, Bruno Fernandes, Bas Dost e Rodrigo Battaglia, mas os três últimos voltaram a assinar com o Sporting após a destituição de Bruno de Carvalho.
Também Jorge Jesus acabaria por deixar Alvalade, depois de rescindir por mútuo acordo, e rumar aos sauditas do Al-Hilal.
O ataque à Academia criou uma crise institucional no clube, com os membros da mesa da assembleia geral (MAG) do Sporting, liderada por Jaime Marta Soares, a demitirem-se em bloco, tal como o presidente e vários membros do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD).
Antes do primeiro pedido de rescisão por parte de um jogador, Marta Soares, em 24 de maio, marcou uma Assembleia Geral (AG) para destituir Bruno de Carvalho, que considera esta convocação uma “bomba atómica” ilegal.
Depois de várias providências cautelares não aceites, Bruno de Carvalho acabaria mesmo por ser destituído em AG, com 71,26% dos votos.
Após a decisão dos sócios, Bruno de Carvalho anunciou que deixava de ser adepto e sócio do Sporting “para sempre”. Contudo, no dia seguinte, o ex-presidente voltou atrás e disse que ia avançar para as eleições.
Antes da AG de destituição, Marta Soares nomeou uma comissão de fiscalização para substituir o demissionário CFD, decisão também não aceite por Bruno de Carvalho, que decidiu substituir a MAG por uma comissão transitória, que viria a ser considerada ilegal em tribunal.
Em 13 de junho, a comissão de fiscalização suspendeu preventivamente Bruno de Carvalho, que considerou estar perante um “pelotão de fuzilamento”, garantindo que continuava a ser presidente e que iria continuar a trabalhar normalmente, tendo mesmo apresentado um novo treinador, o sérvio Sinisa Mihajlovic.
Com Bruno de Carvalho suspenso, Marta Soares nomeou uma comissão de gestão, com Artur Torres Pereira como presidente e com o antigo presidente Sousa Cintra, que viria a ser escolhido para liderar a SAD até às eleições, demitindo o treinador sérvio e escolhendo para o seu lugar José Peseiro.
Bruno de Carvalho acabou mesmo por a sua candidatura rejeitada, tal como Carlos Vieira, seu antigo número dois, e o ato decorreu com seis candidatos.
No ato eleitoral mais concorrido de sempre, com 22.510 votantes, Frederico Varandas, ex-diretor clínico, presente do dia do ataque de Alcochete, foi eleito com 42,32% dos votos, contra os 36,84% alcançados por João Benedito. José Maria Ricciardi teve 14,55%, ficando à frente de Dias Ferreira (2,35%), Fernando Tavares Pereira (0,9%) e Rui Jorge Rego (0,51%).
Com um estilo muito mais conservador, Frederico Varandas teve como primeira decisão mediática a demissão de José Peseiro, substituindo-o pelo holandês Marcel Keizer.
Com este ano atípico, a situação financeira do clube complicou-se, e o Sporting adiou o reembolso de um empréstimo obrigacionista de 30 milhões de euros de maio para novembro e, consequentemente, a emissão de novas obrigações.
Já com Varandas na presidência, a SAD dos ‘leões’ lançou um novo empréstimo obrigacionista de 30 milhões de euros, mas a falta de confiança dos investidores ficou patente no encaixe de apenas 26,2 milhões de euros.