Deixar Rui Costa no banco no triunfo por 6-3 diante do Sporting foi uma decisão que marcou Toni, reconheceu o antigo treinador do Benfica, que enfrentou a discordância do seu adjunto e a mágoa do futebolista.
“A decisão do Rui é daquelas que mais me marcaram na carreira de treinador (…). E o Rui não me perdoa nunca o facto de nesse dia ter jogado apenas os últimos 20 minutos do jogo”, revelou o treinador à agência Lusa.
Após 25 anos, o dérbi da 30.ª jornada do campeonato de 1993/94, disputado em 14 de maio de 1994, permanece na memória dos adeptos, pela diferença do resultado e pela superioridade na vitória dos ‘encarnados’, que abriu o caminho para o título do Benfica.
Rui Costa, que na época seguinte sairia para a Fiorentina, já mostrava a excelência que o consagrou em Itália, mas foi ‘sacrificado’ por Toni num dos mais importantes dérbis da história entre Benfica e Sporting.
Para o treinador, a explicação para deixar o ‘maestro’ no banco é simples: precisava de “equilibrar a equipa”.
“Se eu jogasse com Vítor Paneira, com Rui Costa, e mais os três avançados que tinha, que eram de vocação não muito defensiva, ficava demasiado exposto para um jogo que teria de equilibrar a equipa em termos defensivos”, justificou.
Toni ainda hoje explica que o jogo iria ‘falar’ com ele e, por isso, saberia o que fazer, optando por não colocar o médio internacional português, até em oposição àquilo que Jesualdo Ferreira, então seu adjunto, defendia, com os dois em desacordo.
“O Jesualdo queria o Rui no ‘onze’ e eu argumentava, de uma forma sustentada. Era um trunfo, um ‘joker’ para jogar. Aqueceu logo quando estava 2-1 [com o Benfica em desvantagem], em termos estratégicos, o jogo podia falar comigo e dar outra nuance”, explicou.
A preparação durante a semana tinha sido clara, com Toni a colocar Rui Costa a fazer de Balakov nos treinos, optando antes por jogar mais à frente com Ailton, Isaías e João Vieira Pinto, à frente dos médios Vítor Paneira, Schwarz e Abel Xavier.
Na entrevista à Lusa, Toni aproveitou para elogiar Jesualdo Ferreira, com quem viveu uma verdadeira simbiose no Benfica nos títulos de 1988/89 e 1993/94, como um "dos grandes treinadores" portugueses.
"Fizemos uma dupla de sucesso no Benfica (...). Discutíamos na preparação dos jogos e havia divergências em relação a esse jogo, eu ouvia sempre e depois decidia, e não estávamos de acordo nesse dia, como em outros dias, mas sempre com o objetivo de ganhar", assinalou.
Rui Costa acabou por entrar a 19 minutos do final, ainda a tempo do Benfica fazer o 6-2, numa jogada desenhada entre Vítor Paneira e Hélder, com golo deste último, aos 74 minutos.