Álvaro Braga Júnior, candidato único à presiência do Boavista nas eleições de sábado, está convicto de que ''o clube precisa de credibilidade'' e que ''daqui a cinco anos pode estar novamente pujante''.
Este portuense nascido há 58 anos regressou ao Boavista a 26 de Novembro do ano passado, depois de já ter passado pelo clube, numa altura em que os “axadrezados” eram presididos por Valentim Loureiro.
Ficaram amigos. Valentim Loureiro foi, aliás, uma das duas pessoas a quem Álvaro Braga Júnior comunicou, em primeira mão, que se ia candidatar à presidência.
''É um homem com muita importância neste clube e que eu muito prezo. Para mim, era fundamental que ele me transmitisse que era muito do seu agrado que eu apresentasse a minha candidatura'', justifica o próximo presidente “axadrezado”.
A outra pessoa foi Joaquim Teixeira, o ainda presidente, que em Novembro promoveu o regresso de Álvaro Braga Júnior ao Boavista.
Apresentado então como ''assessor'', subiu depois a número um da SAD axadrezada e agora prepara-se para ser ele próprio líder do clube. Tomará posse como 34º presidente logo no dia das eleições, numa cerimónia marcada para as 21:30, no Estádio do Bessa, no Porto.
Braga Júnior vai, portanto, substituir aquele que o convidou a ir para trabalhar no clube e que entretanto se demitiu, declarando-se incapaz de encontrar soluções para os graves problemas financeiros que o Boavista enfrenta.
O que pode levar alguém a candidatar-se à presidência de um clube quase falido, que deve a jogadores, técnicos e fornecedores, com um passivo superior a 90 milhões de euros e, ainda por cima, em risco de ser despromovido?
''Acho que o clube tem algumas públicas dificuldades, mas neste momento posso dizer-lhe que já não deve o que insinuam a jogadores, mas não vou estar sistematicamente a dizer que paguei ou não paguei. É uma questão que nem sequer permito que a administração da SAD fale sobre ela'', responde.
Álvaro Braga Júnior invoca ainda os ''tempos magníficos'' que diz ter passado no clube, os ''vários amigos'' que fez no Bessa e a ''relação muito forte'' que manteve sempre com ''esta casa''.
Num breve olhar sobre a sua mais recente experiência boavisteira, o agora candidato presidencial diz ter a ''convicção de que o Boavista esteve perto do início do fim duas vezes: se tivesse de facto havido a greve dos jogadores no jogo com o Nacional da Madeira e se não tivesse aparecido nenhuma candidatura à direcção do Boavista''
A 06 de Maio demitiu-se a SAD, três dias depois, a direcção presidida por Joaquim Teixeira seguiu-lhe o exemplo. ''Para quem está de fora, a pior imagem que se pode dar é a de um vazio profundo'', analisa Álvaro Braga Júnior.
As eleições - apenas para a direcção, porque o Conselho Fiscal e a Assembleia Geral mantêm-se em funções - foram marcadas para 28 de Junho. E só no último dia do prazo para serem apresentadas candidaturas é que houve fumo branco.
''Numa conversa com pessoas amigas, todas elas ligadas ao Boavista, e com algumas possíveis certezas, decidi avançar para evitar a segunda queda, aquela que me parecia ter sido o segundo início do fim do Boavista'', explica.
Álvaro Braga Júnior não faz promessas aos boavisteiros: ''Não preciso de prometer nada aos sócios. Eles sabem que vão ter uma pessoa que, neste momento, é o primeiro dos boavisteiros e que está na primeira linha para voltar a pôr este clube no lugar que é e foi sempre o dele''.
Tornou-se sócio “axadrezado”, mas é tido como portista: ''Passei já por tantos clubes que isso esbate-se um bocado. Comecei no FC Porto, mas passei por vários outros clubes e fui mais ou menos feliz em todos eles, mas se calhar, até por serem mais pequenos, houve dois que me marcaram profundamente: o Farense e o Boavista''.
Álvaro Braga Júnior queixa-se de não poder preparar a nova época futebolistica como queria, porque desconhece qual vai ser a decisão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol: a confirmação da deliberação da Comissão Disciplinar da Liga, que condena o clube a descer de divisão, ou a sua anulação e aplicação de uma pena mais leve.
''A espera cria-nos algumas dificuldades para a constituição do plantel, mas acredito que com algum talento nós seremos capazes de ultrapassar esta situação'', afirma, acrescentando: ''Tenho recebido com alguma satisfação alguns contactos, mas só isso, de alguns jogadores disponibilizando-se para vir jogar para o Boavista''.
Por outro lado, o dirigente acredita que ''a partir do momento em que o clube volte a entrar na velocidade de cruzeiro alguns investidores irão chegar'', mas considera que para isso ''o Boavista precisa de credibilidade e de estabilidade''.
Apesar do actual vazio directivo, os responsáveis não estão parados. Mas já não se fala de investimento, como sonhava Joaquim Teixeira, mas sim de ''empréstimo''.
O verbo investir parece ter caído em desgraça no Bessa desde o trauma causado pelo ''caso'' Sérgio Silva, o ''investidor'' prometeu injectar 38,5 milhões de euros no Boavista e acabou detido pela Polícia Judiciária, sendo acusado de burla e falsificação de documentos
O empréstimo de que fala Álvaro Braga Júnior está a ser negociado, vai para quase dois meses.
''Quando as coisas são sérias demoram o seu tempo. As coisas que não são sérias é que aparecem de um dia para o outro como quem tira um coelho da cartola'', sublinha o candidato, que considera o Boavista um clube viável que ''tem que ser gerido com enorme rigor e isso tem que ser explicado aos associados''.
Braga Júnior acredita que ''daqui a cinco anos o Boavista pode estar outra vez pujante, como já esteve, e a partir daí, com boas escolhas, pode todos os anos lutar por uma competição europeia'', mas admite que no curto-prazo a Europa será quase como uma quimera.
''Não digo que seja completamente impossível (presença nas competições europeias), mas os sócios sabem que não contam comigo para afirmações bombásticas. Entre o quase fechar e o futuro tem de haver um caminho que temos de trilhar com muito rigor e bom senso'', admite.