Wendel assumiu hoje em tribunal que Bruno de Carvalho falou com o plantel todo após o ataque à academia de Alcochete e acrescentou que nunca se recusou a falar com o antigo presidente, contrariando a versão apresentada por Jorge Jesus.
“Ele [Bruno de Carvalho] falou com todos, falou com o grupo”, respondeu o médio brasileiro, depois de questionado pela juíza presidente se o então presidente do clube Bruno de Carvalho esteve na academia logo após o ataque e se falou com o plantel.
Esta versão contraria a apresentada em tribunal pelo então treinador do Sporting Jorge Jesus, que afirmou que os jogadores se recusaram falar com Bruno de Carvalho, e pelos restantes jogadores que revelaram em julgamento não terem falado com o antigo presidente do clube após a invasão.
No depoimento realizado em 07 de janeiro, Jorge Jesus afirmou que os jogadores se recusaram falar com Bruno de Carvalho.
“Todos os jogadores foram para a sala de estar para não se encontrarem com ele. Nenhum queria falar com ele. Houve um telefonema a dizer que o presidente vinha à academia. Alguns jogadores até disseram: ‘nem vale a pena ele vir’. Os jogadores afastaram-se dele, fugiram dele”, referiu Jorge Jesus, durante o seu testemunho.
Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, perguntou hoje a Wendel se se referia aos seus companheiros (plantel) quando falou em “grupo todo”, tendo o médio respondido ‘claro’.
Wendel foi mais longe e afirmou que não ouviu nenhum colega dizer que não queria falar com Bruno de Carvalho, nem que, ele próprio, tenha dito alguma vez que não falava com o então presidente do Sporting.
Wendel e Luís Maximiano foram ouvidos em 09 de dezembro de 2019 por videoconferência, mas devido a falhas na gravação, tiveram de repetir hoje os testemunhos a partir do Tribunal do Montijo, na 19.ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos, incluindo o antigo presidente do clube Bruno de Carvalho, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
Wendel repetiu ainda que foi agredido com estaladas na cara por um dos elementos e que viu “agressões a outros companheiros”, nomeadamente Acuña e Misic, que levaram chapadas.
O médio referiu ter ouvido frases como “não eram jogadores para o Sporting” e mandaram retirar as camisolas, tendo visto uma tocha no chão. Wendel reiterou que ficou com medo que este tipo de situação voltasse a acontecer.
Questionado sobre a reunião de 14 de maio de 2018, a testemunha reiterou o que havia dito no primeiro depoimento: que não se recordava dessa reunião.
Luís Maximiano relatou novamente as agressões aos jogadores William Carvalho, Rui Patrício, Bataglia, Montero, Acuña e Misic, este último atingido com um cinto na cara, enquanto os restantes foram agredidos com empurrões, pontapés e murros.
Max reiterou ainda ter visto tochas arremessadas, uma das quais atingiu na barriga o então preparador físico Mário Monteiro.
O jovem afirmou ainda ao coletivo de juízes, presidido por Sílvia Pires, ter ouvido uma frase dita por um dos invasores.
“Não ganhem domingo, que vocês vão ver”, relatou o guarda-redes, em alusão à final da Taça de Portugal, que se jogou no domingo seguinte, 20 de maio, a qual o Sporting viria a perder 2-1 contra do Desportivo das Aves.
O julgamento prossegue na sexta-feira, com a inquirição, de manhã, de João Rolan Duarte, do ‘staff’ do clube, e, à tarde, já não vai falar o ex-futebolista italiano do clube Cristiano Piccini, que atualmente alinha no Valência, como previsto.
O processo, que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Os três arguidos respondem ainda por um crime de detenção de arma proibida agravado e ‘Mustafá’ também por um crime de tráfico de estupefacientes.