O ex-Presidente timorense, José Ramos-Horta, pediu hoje desculpas, como cidadão de Timor-Leste, pelas críticas que alguns compatriotas têm feito contra os cidadãos e agências estrangeiras, incluindo a ONU, presentes no país.
“Peço desculpas a todos os nossos hóspedes que trabalham nesta terra amada quando algum timorense vos desrespeita. Como cidadão de Timor-Leste curvo-me, baixo a cabeça, e peço-vos desculpas”, escreveu numa mensagem no Facebook.
“Alguns já se esqueceram da solidariedade da comunidade internacional. Alguns deitaram fora o seu coração”, sublinhou.
Os comentários de Ramos-Horta surgem na sequência de relatos de incidentes envolvendo estrangeiros, incluindo portugueses, que são associados ao novo coronavírus, bem como a críticas, incluindo de um alto comandante da polícia timorense ao trabalho da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Já hoje o coordenador da ONU em Timor-Leste expressou “grande desilusão e descontentamento” pelas críticas “irresponsáveis” de um comandante policial timorense sobre o apoio da Organização Mundial de Saúde no combate à covid-19 no país.
“É angustiante ver e ouvir um alto funcionário público declarar publicamente na televisão nacional ontem à noite que "’não está satisfeito com a OMS, que não estão a ajudar o Governo a combater a covid-19”, disse Roy Trivedy em comunicado enviado à Lusa.
“A declaração feita pelo comandante Operacional da PNTL é factualmente incorreta, mostra uma falta de compreensão do papel da OMS e é altamente irresponsável”, referiu.
Na publicação no Facebook, Ramos-Horta recordou o apoio dado por Portugal, por outros estrangeiros e pela ONU “durante os longos anos negros” da ocupação indonésia, e que permitiu ao país restaurar a sua independência.
Ramos-Horta escreve que o sistema da ONU está em Timor-Leste “porque assim o deseja o Estado Timorense” e porque o país continua a pedir esse apoio.
“No Facebook vi algumas críticas contra a ONU, os ‘malaes’ [estrangeiros], a China, e contra a Organização Mundial de Saúde. Timor-Leste é membro da ONU e somos membros da OMS”, escreveu Ramos-Horta.
O ex-Presidente diz que é o Estado timorense que pede à OMS para estar em Timor-Leste, não despendendo “nem um centavo com a OMS e os seus programas” no país, sendo uma organização “respeitada em todo o mundo”.
“Deposito total confiança na ONU, 100% de confiança nas agências especializados da ONU”, sublinhou.
Ramos-Horta terminou com um apelo aos timorenses para que mostrem que têm “coração” e que “nos tempos bons e nos tempos maus” sempre acolheram bem os seus hóspedes.
“E, sobretudo em tempos de grave crise em todo o mundo, como timorenses devemos acolher com coração aqueles que vieram de outros mares e que estão entre nós, os recebamos bem”, referiu.
Timor-Leste tem até ao momento um caso registado da covid-19.