O departamento de estudos do banco sul-africano Standard Bank disse hoje que a economia de Angola vai enfrentar «consequências negativas sem precedentes» se o petróleo se mantiver nos preços atuais, mantendo-se em recessão este ano.
“O petróleo está a transacionar a cerca de 30 dólares por barril na altura em que escrevemos, e se os preços se mantiverem nestes níveis históricos por algum tempo, isso trará consequências negativas sem precedentes para a economia de Angola”, escrevem os analistas do departamento de estudos económicos do banco africano Standard Bank.
No relatório deste mês sobre as economias africanas, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os economistas lembram que o petróleo está a transacionar a quase metade do valor inscrito no orçamento de Angola (55 dólares por barril) para este ano e antecipam uma subida da inflação e uma descida do valor do kwanza face ao dólar.
“A taxa de câmbio entre o dólar e o kwanza manteve-se relativamente estável, à volta dos 500 kwanzas por dólar, mas há uma forte probabilidade de que a taxa suba fortemente outra vez devido às pressões de liquidez originadas pela pandemia da covid-19 e pela guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia”, dizem os analistas, que antecipam uma desvalorização da moeda nacional angolana.
“Aumentámos a nossa previsão de câmbio para o final deste ano, para 719,6 kwanzas por dólar, quando antes estava nos 629,8, o que representa um aumento anual de 49,2% face aos 30,6% previstos inicialmente”, salientam.
A nível macro, o departamento de estudos económicos prevê que Angola continue a registar um crescimento negativo, à semelhança do que acontece desde 2016: “A probabilidade de Angola sair da recessão de quatro anos diminui materialmente, o PIB deve contrair-se novamente, quando a previsão inicial era de crescimento de 1,4%”, escrevem.
O Governo, acrescentam, será obrigado a rever o Orçamento Geral do Estado para reduzir o risco de um grande défice orçamental, quando dantes previa um excedente de 1,2% do PIB, apontam os analistas, concluindo que o facto de estar sob assistência financeira e ter cumprido as etapas do programa do Fundo Monetário Internacional “é uma vantagem” para o país.
“O histórico positivo no atual programa é uma vantagem para o país, e não descartamos a possibilidade de uma revisão de algumas das métricas do programa devido aos desafios atuais, já que as necessidades de financiamento, quer internas quer externas, vão inevitavelmente aumentar”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 420 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 18.000 morreram.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.