Os 144 golos apontados até à 9ª jornada fazem da edição 2008/09 da liga de futebol a menos produtiva do século XXI e acentuam a tendência de quebra de produtividade dos ataques, que se verifica desde a época 2004/05.
» Estatísticas Liga Sagres 2008/2009
À nona jornada da Liga, que termina a 17 de Dezembro com o encontro entre o Estrela da Amadora e o FC Porto, regista-se uma média de 2,02 golos por encontro, longe dos 154 golos apontados na época anterior, que perfazem uma média de 2,17.
Desde a época 2000/01, o número de golos apontados até à 9ª jornada tem vindo a diminuir significativamente, registando-se apenas uma ligeira subida na temporada 2004/05, em que foram apontados 207 golos contra os 206 de 2003/04.
Nas últimas cinco edições a Liga portuguesa tem vindo a perder uma média de 12,6 golos por época, com a temporada de 2005/06 a entrar para a história como a primeira do século em que foram apontados menos de 200 golos.
O Benfica, a única equipa que ainda não perdeu na presente edição da Liga, tem o melhor ataque da prova, com 16 golos, ''repetindo'' a marca alcançada na época passada - a primeira do século XXI em que a competição foi disputada por 16 equipas - por FC Porto e Sporting.
Em relação aos cinco grandes campeonatos da Europa, quase todos disputados por 20 equipas, Portugal também perde ''por muitos'' golos.
Em Espanha, até à nona jornada foram marcados 242 golos (2,69 golos por jogo), com o FC Barcelona a ser a equipa mais concretizadora, com 28 tentos, mais 12 que o Benfica, treinado pelo ex-internacional espanhol Quique Flores.
No campeonato inglês, foi registada uma média de 2,66 golos por jogo (239 no total), enquanto na Liga alemã foram apontados até à nona jornada 251 golos, o equivalente a 3,10 tentos por encontro.
As ligas italiana e francesa são, ainda assim, as que mais se aproximam da portuguesa, com as equipas transalpinas a registarem uma média de 2,24 golos por jogo e as gaulesas 2,21.
A veia cada vez menos goleadora das equipas portuguesas tem, na opinião do presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) e de dois antigos goleadores e actuais técnicos, origem na melhoria das condições de trabalho das equipas mais pequenas, nas alterações tácticas e na pouca qualidade de alguns avançados.
Manuel Fernandes, antigo avançado internacional português e actual treinador, entende que a falta de golos na principal competição nacional é provocada pela ''forma de jogar das pequenas equipas'', mas sobretudo pela falta de desequilibradores na frente de ataque.
''Cada vez há mais carências de avançados em Portugal, os que são muito bons saem logo para o estrangeiro e depois ficamos com jogadores que não têm condições para jogar nas grandes ligas europeias'', referiu, em declarações à Agência Lusa.
O actual treinador da União de Leiria, defende que a solução para a falta de golos passa pela criação de escolas de treinos específicos para os avançados.
''Mais tarde ou mais cedo, os pontas-de-lança têm de ter treinadores específicos. As grandes equipas da Europa já têm antigos jogadores a treinar os avançados. Essa vai ser a solução para o futebol português, não só nos seniores, mas também nas camadas jovens'', afirmou.
Para José Pereira, presidente da ANTF, a falta de golos deve-se a dois aspecto fundamentais: ''O trabalho relativamente bom que todos os treinadores estão a fazer e a diminuição das diferenças de qualidade entre clubes de topo e os chamados clubes do fim da tabela''.
O presidente da Associação de treinadores considera que ''apesar de não existirem golos a espectacularidade no futebol aumentou porque ver equipas a defender bem também é espectacular''.
Domingos Paciência, treinador da Académica, também entende os golos surgem cada vez menos porque ''o aspecto defensivo é muito mais trabalhado'', pelo que ''é cada vez é mais difícil os avançados criarem desequilíbrios'', transformando-os em figuras que ''cada vez tocam menos na bola''.
Quanto à diferença de golos marcados na Liga portuguesa e nas cinco principais congéneres europeias, José Pereira, Manuel Fernandes e Domingos Paciência são unânimes em considerar que a qualidade dos avançados, sobretudo em Espanha e Itália, ''faz a diferença''.