Os parques de campismo algarvios seguiram a indicação do governo retirando os seus ocupantes, mas alertam para os muitos parques ilegais na região onde dizem permanecer milhares de caravanistas.
“No Algarve há mais de 90 estações e autocaravanas totalmente ilegais que estão cheias. Em Albufeira há sete ou oito, em Olhão umas doze, em Lagos, Manta Rota, Alvor a mesma coisa. São dezenas de milhares de autocaravanas” afirmou à Lusa o presidente da associação de parques de campismo do Alentejo e Algarve.
Joaquim Lourenço revelou que há “36 parques legais na região” que teriam cerca de “2800 autocaravanas”, número que corresponde apenas “a 10-15% dos números reais”, indicando que "é fazer as contas para saber quantos estão mesmo na região”. "As entidades foram alertadas há uma semana e não nos ouviram”, sustentou.
No âmbito da declaração do estado de emergência em Portugal, para combater a pandemia de covid-19, terminou esta sexta-feira o prazo para os utentes saírem dos parques de campismo e de caravanismo, enquanto os residentes a título permanente nestes estabelecimentos turísticos podem neles permanecer para assegurar a resposta à necessidade habitacional.
Joaquim Lourenço considerou “muito errada” a abordagem do Estado, já que “nos parques as pessoas estavam no seu espaço, na sua autocaravana, com o seu duche, com a sua sanita, não usando os balneários. Estavam em segurança”.
No Eco Camp em Salema, concelho de Vila do Bispo, de que é proprietário, revelou terem saído “100 turistas” e alguns decidiram “fazer campismo selvagem, outros foram para terrenos privados” e houve mesmo quem tivesse “adquirido um terreno agrícola para colocar a sua autocaravana”.
No parque só ficou um cidadão residente e no parque em Alvor, concelho de Portimão, de que também é proprietário ficam “50 pessoas, que têm um contrato como residente”.
Em Quarteira, concelho de Loulé, o parque gerido pela Junta de Freguesia encerrou esta sexta-feira e dos “80 autocaravanistas” apenas permanecem “cinco, por serem residentes”, revelou à Lusa o presidente da Junta.
Telmo Pinto, defendeu que deveria ter havido “uma outra abordagem” por parte do Estado, “restringindo as pessoas nestes locais, com controlo das saídas e ações de sensibilização”. “Eu não acredito que muitos não regressem aos seus países”, afirmou.
Em Silves, o Parque do Rio implementou desde 13 de março o isolamento, não aceitando mais utentes e “alertando os ocupantes de todos os alertas e conselhos das autoridades de saúde”, afirmou à Lusa o diretor do parque.
Filipe Afonso revelou que hoje a “ocupação é residual” estando a aguardar “uma decisão da proteção civil municipal de Silves” para dar resposta às pessoas que “não tiveram como opção a aventura do regresso a casa”.
“São na sua maioria reformados, muitos com mais de 70, 80 anos que estão a 2000, 3000 quilómetros de casa e que costumam fazer regresso em duas a três semanas. Agora têm poucos dias para o fazer e com apoios fechados”, descreveu.
No início do fecho das fronteiras houve “quem tivesse sido barrado”, mas “depois do acordo com o governo espanhol, conseguiram seguir viagem”. Alguns já lhe reportaram uma “chegada segura a casa”, confirmando, no entanto, terem encontrado “tudo encerrado pelo caminho”.
Contactada pela Lusa, fonte da Guarda Nacional Republicana afirmou que não haverá “uma postura repressiva” em relação aos caravanistas, mas terá “uma atenção especial a qualquer ajuntamento ou aglomerados”, no âmbito da prevenção da propagação da covid-19. Revelou, no entanto, que uma autocaravana “é um veículo”, podendo “circular ou estar parqueado, desde que não esteja a praticar o campismo”.
A autoridade marítima do Sul revelou à Lusa que irá “reforçar a vigilâncias, principalmente na zona ente Lagos e Sagres evitando, acima de tudo, os aglomerados”, uma ação classificada como “importante para salvaguardar a saúde pública”.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 572 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 26.500.
Dos casos de infeção, pelo menos 124.400 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, segundo o balanço feito sexta-feira pela Direção-Geral da Saúde, há registo de 76 mortes 4.268 pessoas infetadas.